domingo, 5 de setembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar. 14

Primeiro Dia
"And breathe... Just breathe..." (Anna Nalick)

É incrível como um ser humano pode ser frágil, fraco, fácil... Como a vida de uma pessoa pode mudar com um jogo, com uma garrafa, com um beijo, um momento talvez... A última coisa da qual eu podia me lembrar enquanto abria os olhos com esforço, tentando encontrar um foco e um modo de amenizar minha dor de cabeça, era de que eu estava viva. O resto tinha sumido completamente dos meus sentidos. Virei-me para o lado, em busca de um cobertor, e acabei por tocar em Bianca (O que eu só fui perceber mesmo quando abri totalmente os olhos e a vi). Estava quase nua, e adormecida. Estávamos numa cama pequena, de solteiro, e tudo o que eu queria era uma xícara de café do tamanho da garrafa de vodka de ontem, só que desta vez eu tomaria inteira. A cafeína vicia uma pessoa, e eu sou facilmente “viciável”.

Caminhei preguiçosamente até a cozinha, sem me preocupar em estar usando apenas minha roupa íntima. Meu sutiã ainda tinha certo cheiro de limão, e eu com certeza o lavaria mais tarde. Quando finalmente cheguei ao aposento, avistei outro corpo feminino, este um pouco mais baixo e mais vestido. Como estava de costas, não pude reconhecer, mas tinha certeza de que não era nenhuma de nós 5. Seus cabelos negros tinham um corte moderno, e as pontas mais longas da frente davam voltas singelas e delicadas para fora, mas isso era tudo o que eu conseguia ver além das costas bem definidas da garota. Vestia uma regata branca, e eu podia ver o contorno exato de sua cintura, enquanto os shorts minúsculos deixavam à mostra coxas das quais eu nunca tive a consciência que poderiam existir tão belas. Talvez por ser baixa, não tinha as canelas finas e sem graça das garotas que dormiam comigo naquele colégio, e estava descalça mostrando pés pequenos e baixos. Meus pés eram altos, literalmente: Eu apenas calçava 39 pois o peito de meus pés era mais alto que o normal, devido ao tamanho exagerado de minha massa óssea. Sussurrei, quase explodindo de dor:

— Bom dia...
A garota quase pulou de susto ao me ver!

— Ah, bom dia... Júlia me disse que todas acordavam super tarde, você é a quebra-regras por acaso?

Que olhos... Eram castanhos e qualquer um que não fosse grande admirador da beleza simplista diria que eram olhos quaisquer, mas eram lindos... Olhos quase de mulher, quase de gato, como se estivessem a espreita desde que eu estivera deitada em primeiro lugar, como se soubessem o que eu estava pensando só de me olhar... E um sorriso desafiador e debochado.