quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar. 39

— Cláudia... Cláu, tá me ouvindo?

Ela não respondia aos meus sussurros. Talvez ela pudesse me ouvir mas estivesse fraca demais para responder. Logo ouvi o som de outra sirene, esta diferente das anteriores, e quando virei para olhar, vi uma ambulância. Eu assistia pouca TV mas sabia da mania das pessoas de entrarem junto de seus amados na ambulância. E eu não faria isso: seria pior pra mim, pior pros médicos, e pior pra ela.

Apanhei o endereço do hospital mais próximo e fui dentro do carro do homem que a atropelara. Seu para-brisa estava trincado mas a primeira coisa que ele quis fazer foi nos acompanhar e saber se ela estava bem. Ele parecia mais preocupado do que eu, de alguma forma eu estava bastante otimista, ou talvez a adrenalina não tivesse passado ainda...

No carro do homem, demorei para perceber que eu estava com as sapatilhas da pequena nas mãos. Havia as apanhado enquanto os paramédicos levantavam-na para acomodá-la na maca. Mesmo depois de perceber isso, continuava atônita, olhando para fora da janela. Olhava muito além, minha mente funcionando em flashs terríveis, como saber da última coisa que ela tinha me dito, como saber que nosso último momento não fora nada romântico, saber que eu não podia fazer nada para impedir que ela sofresse algo grave... E depois de todo esse sentimento de culpa outro me invadia, um diferente, um medo misturado com carinho, com... Com amor? Será mesmo que, em tão pouco tempo, eu me apaixonei por Cláudia? O jeito que ela falava, que ela andava... Pare de pensar no passado!, disse a mim mesma, Pense no presente, ela fala, ela anda!... Ela vive, ela vive... Ela tem que estar bem...

Quando eu fechava os olhos, podia ouvir sua voz, sua risada... Podia sentir seu perfume, que era sempre o mesmo pra mim, mesmo se ela mudasse... Um perfume dela, e não do que ela usava, o cheiro de sua pele clara e macia, dos cabelos negros, um cheiro de desafio, de mulher que seduz e menina que fascina... Eu podia lembrar de seus olhos, castanhos, puros, lindos.. Que, contra a luz, ficavam tão nítidos numa cor que beirava o mel escuro, e que viviam semi-cerrados e expressivos, bem contornados numa maquiagem sutil, moldados em uma forma perfeita... Ela tinha os olhos lindos... Ela tinha o rosto lindo... Ela tem, Gabriela, ela tem! Para de pensar no passado, para...

Não demoramos muito para chegar ao hospital. Estava muito movimentado e nos mandaram esperar sentados, aonde? Na sala de espera, Mariazinha, é óbvio.

Fiquei ali. Deviam ter passado alguns minutos, mas para mim eram horas. Não havia nem sinal de notícias. Logo vi um casal mais velho chegando, deviam ser os pais de cláudia: uma mulher com a expressão assustada, mas que parecia ser muito forte, e um senhor com aparência simpática, e o rosto tenso naquele instante.