sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar. 42

Depois de muito tempo, nos afastamos, as mãos dela ainda em meu rosto. Ela me olhava como se estivesse assustada, enquanto eu arfava, recuperando meu fôlego, depois de tanto tempo respirando quase que desprezivelmente. Quando seus lábios se moveram, eu esperei as palavras saírem como se esperasse minha sentença, como se aquilo fosse decidir se eu viveria dali por diante...

— Seu... Amor? — Gaguejou a morena, esboçando um meio sorriso irresistível... De repente, era como se um balde de água fria tivesse caído em mim e eu tremesse a cada movimento, por mais sutil, que ela fizesse... Era como se aquele acidente tivesse me feito perceber o quanto ela era valiosa, o quanto era bonita e meiga e virtuosa... Eu mal conseguia me concentrar o suficiente para responder, e tive que respirar fundo e sussurrar um "é" tímido e contido... E eu mal sabia se ela tinha me escutado!

Sim, ela me escutou, e sorria. Seu rosto agora estava corado e seus olhos tinham uma expressão indecifrável. Eu tinha certeza de que ela zombaria de mim, que ela diria "não pensei que fosse tão fácil", e me daria uns tapinhas de "boa sorte" no ombro. Foi quando ela piscou lentamente e, sem desviar o olhar, acariciou meu rosto com as costas da mão, e sussurrou:

— Amo você... — E nessas duas palavras, era como se meu corpo tivesse sido abandonado em queda livre de uma espaçonave prestes a cruzar o limite da atmosfera terrestre. — É meio que por acidente, sem querer, mas... Amo...

Sua voz era doce e melódica... Como se um anjo sussurrasse em meus ouvidos o eco de cada palavra que ela dizia, e estas palavras ficassem se repetindo na minha mente, de forma organizada e fiel, como se fosse ela quem estivesse repetindo. Mas seus lábios não se moviam mais, e sem querer eu desviei meu olhar de seus olhos para sua boca, como se quisesse me certificar de que ela realmente não se movia. Será que ela realmente me amava? Aquilo parecia ter sido tão sincero, e fora tão delicioso de se ouvir... E eu poderia ficar ali para sempre, não fossem as condições dela, eu poderia me deitar ao seu lado e olhar seu rosto eternamente... Um rosto perfeito, sem nada que me tirasse a atenção do mesmo... Quando dei por mim, estava ainda debruçada sobre o corpo dela, e então me ergui levemente, sentando numa postura reta e tocando sua mão suavemente. E, como se aquela fosse a cena mais natural do mundo, tentei me recompor e perguntei, baixinho:

— Quando vai sair daí e voltar pra casa?