quinta-feira, 3 de março de 2011

Para quem pode me ouvir sussurrar. 49


— Sabe.. Já faz tempo.. Que eu queria te falar.. — Eu comecei, quase inaudivelmente, a cantarolar. — Das coisas.. Que trago no peito...

Nesse instante em que pausei meu canto, Cláudia me apertou carinhosamente, soltando um daqueles gemidos de "nha" que todas nós menininhas ultra fofolétes soltamos quando sentimos necessidade. Eu sorri, rindo baixinho, quando ela sussurrou um "continua" que me tirou a timidez.

— Saudade... Já não sei se é a palavra certa para usar... Ainda, lembro do seu jeito...

Não.. Eu não ia cantar dali por diante. Eu não queria... Eu queria olhá-la, ouvi-la, beijá-la... Olhei em sua direção e ela estava de olhos fechados. Toquei seu queixo com delicadeza, fazendo-a olhar em minha direção. E beijei-lhe, como naquela vez... Como naquele beijo... Como podia todo o beijo com ela parecer ser o primeiro?

Ficamos ali, trocando besteiras uma ao ouvido da outra, por mais algumas horas. Quando ela começou a bocejar, e eu também, vimos que era tarde, e o relógio na parede do consultório já marcava mais de 23h00. Eu não queria dormir... Eu não ia dormir enquanto eu conseguisse ficar acordada! Não levou muito tempo para que Cláudia pegasse no sono, exausta, encolhida em meu colo, com uma das mãos tocando meu pescoço, como se eu fosse um bichinho de pelúcia gigante... E eu a observei até de madrugada... Respirando profundamente... E sorrindo... E sonhando...

Quando eu finalmente peguei no sono, dezenas de sonhos me ocorreram, confundindo a minha mente de forma que nem eu poderia explicar. Em um, Cláudia se afastava de mim, dizendo que era mentira, e que não me amava. Em outro, estávamos num gramado alaranjado, e ela acariciava meu rosto e dizia que em amava. E em outro, talvez o que mais me atormentou... Bianca me afastava, à força, de Cláudia...

Acordei no meio da madrugada, o rosto quente, e percebi que apertava Cláudia contra meu corpo. Ela, por sorte, ainda dormia, como se nem ao menos tivesse noção de que tanto estava acontecendo... Respirei fundo, e voltei a dormir...


Durante o resto da noite, sonhei que eu e Cláu passávamos todo um dia chuvoso deitadas numa cama de casal, hora trocando olhares e beijos carinhosos, hora fazendo amor de forma viciante... Mas nem esse sonho... Nem nenhum, nunca seria bom o bastante, perto do que eu sentia com ela...

{Fim do quarto dia}