domingo, 14 de março de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar.2

[...] E pior é que, provavelmente, eu tenha pegado no sono de novo só as 4 e meia[...]

▬DESLIGA ESSE INFERNO GABRIELA!!

Ah, como é maravilhoso acordar ouvindo o canto dos passarinhos! Só que galinha não canta, e logo eu reconheci a voz daquela galinha desajustada que não sabe que não deve cantar. Mas ela estava certa: meu despertador era infernal, era colossalmente barulhento, era definitivamente o que há de mais irritante na face da Terra. Se a galinha tivesse me acordado com um soprinho na orelha e um beijo de bom dia, eu ia ficar bem menos irritada, mas não ia ter nenhuma vontade de sair da cama se ela estivesse comigo...

▬Tá tá..já to desligando... -Falei, com a voz baixa e rouca de quem não queria falar, enquanto desligava a musiquinha demoníaca do meu celular. ▬ E bom dia pra você também ! É muito bom te ver logo de manhã, tão bem humorada...

Júlia era, de longe, a garota mais fresca e irritada daquele colégio interno. Mas ouso dizer que era a mais gostosa também. É impossível que ela tenha conseguido ficar tão peituda naturalmente, tenho certeza de que colocou silicone nas férias de Natal, mas ficou realmente agradável de observar, ela sabe até onde pode ser boa sem ser exagerada. Porque toda garota mais gostosa do colégio precisa ser loira? Isso me irrita, ela podia pintar o cabelo de preto, sei lá, ia ficar com menos cara de puta.

Para quem pode me ouvir sussurrar.1

'Da cor do sangue, da cor do ébano'

Eram aproximadamente três horas da manhã quando eu perdi o sono. Para qualquer dia comum de semana, era um péssimo horário para estar acordada, especialmente se considerarmos que meu despertador deveria despertar as 6:00hrs. Com o calor daquela noite, a única coisa que pude fazer foi levantar silenciosamente da cama e caminhar por aquele dormitório, em busca de alguma janela entreaberta. Quando finalmente encontrei uma, ao lado da cama de uma colega de quarto, sentei-me à beira da mesma, a observar a lua. Eu a observava com o olhar sonolento, de quem só quer voltar pra cama, mas não consegue. E depois de poucos instante, deixei de observar o astro e repolsei os olhos na minha colega de quarto...Quer dormia tranquila...Ou era o que parecia. E enquanto a observava, eu enrrolava os dedos nos meus caxos castanhos, pensando se devia acordá-la ou não...Ela estava graciosíssima, enrrolada por entre os lençóis brancos e quase transparentes, o corpo um pouco bagunçado, jogado na cama de forma confortável. Seus cabelos negros refletiam um tom avermelhado à luz da lua, talvez devido a tintura que ela havia usado a pouco tempo para tingi-los. Por ser um dormitório exclusivamente feminino, a garota não se importava em dormir apenas com suas roupas íntimas, o que a deixava ainda mais interessante...Ah! Se alguém me visse sentada ali, logo comentaria pontos a mais de um conto que ainda não foi escrito. Ninguém pode saber dessas coisas, ninguém...

Voltei para minha cama. Não podia me deixar acordada, era meu último dia naquele lugar e eu tinha de estar perfeita. Antes de me deitar, fiz questão de ver se tudo estava organizado para o dia seguinte. Não, não estava. Mas quem disse que eu arrumei? Eu vou lá fazer barulho às três da manhã no último dia de aula? Não sou nenhuma idiota. E o pior é que, provavelmente, eu tenha pegado no sono de novo só às 4 e meia...