segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar. 23

Era como se as paredes pudessem me ouvir sussurrar... Como se qualquer movimento que eu fizesse com cada uma delas fosse ser descoberto. Minhas confissões deviam ser secretas, e eu confesso... Que não amo nenhuma delas. Tenho Júlia como boa companhia, Bianca como boa amiga, e Cláudia como... Um segredo. Como um segredinho, daqueles que o tio malvado pede pro sobrinho inocente guardar...

Resolvi levantar e me vestir. Apanhei uma calça social, uma camisete, e um colete. O dia estava com jeito de chuva, mas ao invés de levar um guarda-chuva eu arrumei o cabelo da mesma forma de sempre, dividido ao meio e com as ondas meio desarrumadas. Saí do quarto e sentei-me ao sofá... Uma sensação péssima de peso, de incerteza, de nó na garganta. Uma vontade de chorar mal justificada... Uma vontade de voltar pra cama.

— Eu vou ter que escolher...— Sussurrava pra mim mesma. — Eu vou ter que saber o que é certo, eu vou ter que tomar decisões... Eu não quero!— Estas últimas palavras saíram de mim como um gemido. E eu devagar me encolhia no sofá, de meias, de olhos fechados, de medo... Até que ouvi uma voz falando, baixo, de volta:

— Você só pensa em si...— Disse Júlia, com calma. Quando virei para observá-la, estava enrolada num lençol, com marcas de mordida no pescoço. — Bianca é maravilhosa... Você devia dar valor a ela, como ela dá a você, já que valor a mim nenhuma das duas deu. Acredita... Que ela falou seu nome enquanto gozava?

Aquilo só podia ser mentira...
Eu não acreditava no que estava ouvindo, no que estava vivendo. Mas Júlia tinha razão... Eu não havia pensado em mais ninguém. Mas hoje, agora, as coisas estavam começando a se encaixar melhor. Bianca deve ter estado bêbada ou alta quando brigou comigo, e deve ter gostado tanto do sexo que pensou que era eu no lugar de Júlia, que deve ter feito tão bem quanto. Só pode ser isso! Eu não sabia o que dizer, e quando finalmente abri a boca, a loira virou as costas e foi até o banheiro, enquanto Bianca saía do quarto, o rosto vermelho, e a expressão desconcertada de quem havia acabado de decepcionar uma garota. Quando ela me olhou e viu que eu a observava, disse:

— Era só mais uma, mesmo...