Eu gostava de continuar sentada por um tempo depois de uma refeição. As garotas já estavam saindo, quando Cláudia perguntou, tocando meu ombro:
— Não vai levantar? Vamos ver um filme!
Eu estava pensando exatamente nela... Exatamente na forma doce que me tratava, enquanto as outras só queriam me comer. Enquanto ela falava, eu a observava, sorrindo. Era como se cada palavra dela passasse em câmera lenta quando ela falava diretamente comigo, e de mim. E o sorriso dela era agradável, era bonitinho de se olhar... Será que eu estava gostando mesmo dela?
Eu, então, me levantei e a segui até a sala, onde as garotas preparavam tudo para um filme de terror. Assim que soube, a pequena morena encolheu-se, resmungando alguma coisa sobre não gostar, e ter medo. É, Gabby, é a sua chance..
— Eu te protejo..— Sussurrei ao ouvido dela, segurando sua mão e sorrindo. — E se você não quiser olhar, pode se encolher no meu colo!
Ela sorriu, enquanto seu rosto se enrubescia. Sentamos ao chão, e as meninas no sofá. Quando eu vi o comecinho, os primeiros segundinhos do filme, eu já reconheci que era um dos meus prediletos! E enquanto eu olhava vidrada pra tela, Cláudia se encolhia, apertando meu braço e soltando grunhidos de medo. Até que eu a abracei, colocando-a no meu colo, e comecei a fazer carinho pelo seu braço... Admito que eu prestava atenção demais no filme, mas senti que ela estava mais calma...
O fim do filme era horrorizante, com direito a sequência e a Gabriela encolhida, assustadíssima e com cara de ovo. Que culpa tenho eu se lobisomens me dão mais medo do que estupradores da esquina?! Todas as garotas estavam em estado de choque, e umas se levantavam para ir ao banheiro enquanto outras iam dormir. Olhei no relógio, e passava da uma hora. Cláudia estava quase dormindo nos meus braços, parecia que só se mantinha acordada por uma frestinha aberta em seus olhos cansados e tão bonitos...
Quando pensei em pedir que ela se levantasse, ela já estava super confortável. Sabe aquele dó de fazer a pessoa acordar e ir andando pro quarto? Pois é! Então, ajeitei o corpo dela apoiado no sofá, e fiquei de joelhos. Assim, mesmo tendo que me esforçar um pouco, apanhei-a no colo com cuidado para evitar solavancos. Quando eu já estava em pé, ela acordou, sussurrando:
— Que você tá fazendo?
Sua voz estava sonolenta, e baixíssima...
— Fica quietinha e relaxa o corpo, vou te levar pro quarto...— Respondi, no mesmo tom de voz, enquanto sorria. — Se você ficar nervosa vai ficar mais pesada, então colabora!
Ela riu baixinho, e então abraçou meu pescoço, diminuindo meu esforço. Eu podia sentir o calor da pele dela, da respiração dela, pelo meu pescoço... E eu nunca tinha carregado ninguém, aquilo pra mim era bem difícil, e quando eu cheguei no quarto deixei-a na cama e comecei a estalar os ossos dos braços. Bianca nos observava pela porta em frente, mas não disse nada quando eu a olhei, e fechou a porta antes que eu pudesse dizer boa noite. Então, fechei a porta do nosso quarto e fui me vestir. Assim que estava com meu pijama, fiquei parada, em pé, de frente ao espelho. Eu sempre gostei de me olhar no espelho.. É uma forma de não esquecer quem nós somos.
sábado, 2 de outubro de 2010
Para quem pode me ouvir sussurar. 24
Sua voz me dava arrepios, era linda... Mas sua forma de tratar as pessoas com quem dormia quebrava todo o encanto da garota maravilhosa que ela era. Estava minimamente vestida, e andava então em direção à cozinha. Mel estava lá, com uma expressão alegre. Entre as conversas que eu e Cláudia tivemos, ela me contou que Clarice havia combinado de ficar com Mel, contanto que ninguém mais soubesse além das garotas da nossa casa, e todas já sabiam do acordo, portanto ninguém contaria aos pais ou amigos de ninguém. Depois que fiquei novamente sozinha na sala, resolvi agir. Apanhei meus documentos no quarto e uma cópia do currículo que eu havia preparado durante as aulas e fui em busca de algum emprego. Todo mundo tava tomando vergonha na cara, eu também tinha que tomar!
Eu havia passado a tarde toda entregando currículos em lojas, empresas, e etc. Uma das lojas, a última, era cheia e rodeada de árvores espinhosas e eu dei um duro do cão pra passar por todas! Voltando para casa, assim que abri a porta, dei de cara com Júlia sentada no chão, debruçada no sofá onde Cláudia estava sentada. Ambas conversavam animadamente, enquanto eu entrei e murmurei um “Olá” cansado. Nisso, Cláudia levantou-se com pressa e correu até o quarto para onde eu tinha ido, perguntando:
— E então, já sabe se tem algo garantido?
— Não, mas devem me ligar durante essa semana... Nossa, estou exausta, devo ter andado mais de um quilômetro! — Resmunguei, jogando meu corpo na cama, já sem sapatos, e amarrotando toda a camisa que eu vestia.
— É pouco, folgada! — Riu a morena, sentando-se ao meu lado. — Eu já devo ter andado uns 7, só por causa do trabalho. Ei... Que é isso no teu braço?
(Isso o que?! Que foi que ela viu? Não se desespere, não pode ser uma barata...)
Quando olhei para meu braço, havia um corte de no mínimo 10 cm e meu antebraço, que começava pouco depois do pulso e que eu não havia percebido antes. E estava manchado de sangue ao redor, quase que manchando o braço todo.
— Nossa! Como foi que eu não vi isso?!
— Sei lá, mas é melhor cuidar logo, que não deve ter parado de sangrar ainda. — Disse a garota, correndo para apanhar a caixinha de primeiros socorros que deixávamos na cozinha. Bem provavelmente por causa da adrenalina liberada graças à grande caminhada que eu havia percorrido às pressas, eu não estivesse sentindo dor até agora. Mas foi só olhar o corte, e eu senti um ardor insuportável...
Quando Cláudia chegou com a caixa, logo apanhou o anti-séptico e espirrou-o sobre o ferimento. Nossa, como aquilo ardia! Logo depois, com duas gazes, a pequena fizera um curativo, enfaixando meu braço em seguida. Mel então passara em frente à porta perguntando o que havia acontecido. Disse que era um corte que provavelmente tinha sido causado por alguma planta onde eu estava, e que estava tudo bem. Depois de enfaixada, eu ouvi Bianca chamando para o jantar. Cláudia então se levantou e estendeu a mão para que eu me levantasse também. Eu gostava do jeito que ela me tratava...
Sentadas à mesa de jantar, todas estávamos plenamente de bom humor. Sim, cada uma perguntou sobre meu braço e eu expliquei a todas de uma vez, e elas ficaram menos preocupadas. Menos Júlia, que parecia me tratar como se eu fosse uma criança, me dizendo para tomar cuidado e repetindo que ela poderia cuidar de mim. Ela deve ter repetido isso 3 vezes durante a conversa. Quando foi repetir a quarta vez, Cláudia a interrompeu, alterando levemente o tom de voz:
— Tá, mas eu cuidei dela, pronto, chega!
Bianca olhou-a com desconfiança. Júlia mal abriu a boca: apenas abaixou a cabeça, com o rosto vermelhíssimo. As outras duas meninas apenas fizeram cara de espanto, retirando seus pratos vazios. Eu era a única que não comia salada?
Eu havia passado a tarde toda entregando currículos em lojas, empresas, e etc. Uma das lojas, a última, era cheia e rodeada de árvores espinhosas e eu dei um duro do cão pra passar por todas! Voltando para casa, assim que abri a porta, dei de cara com Júlia sentada no chão, debruçada no sofá onde Cláudia estava sentada. Ambas conversavam animadamente, enquanto eu entrei e murmurei um “Olá” cansado. Nisso, Cláudia levantou-se com pressa e correu até o quarto para onde eu tinha ido, perguntando:
— E então, já sabe se tem algo garantido?
— Não, mas devem me ligar durante essa semana... Nossa, estou exausta, devo ter andado mais de um quilômetro! — Resmunguei, jogando meu corpo na cama, já sem sapatos, e amarrotando toda a camisa que eu vestia.
— É pouco, folgada! — Riu a morena, sentando-se ao meu lado. — Eu já devo ter andado uns 7, só por causa do trabalho. Ei... Que é isso no teu braço?
(Isso o que?! Que foi que ela viu? Não se desespere, não pode ser uma barata...)
Quando olhei para meu braço, havia um corte de no mínimo 10 cm e meu antebraço, que começava pouco depois do pulso e que eu não havia percebido antes. E estava manchado de sangue ao redor, quase que manchando o braço todo.
— Nossa! Como foi que eu não vi isso?!
— Sei lá, mas é melhor cuidar logo, que não deve ter parado de sangrar ainda. — Disse a garota, correndo para apanhar a caixinha de primeiros socorros que deixávamos na cozinha. Bem provavelmente por causa da adrenalina liberada graças à grande caminhada que eu havia percorrido às pressas, eu não estivesse sentindo dor até agora. Mas foi só olhar o corte, e eu senti um ardor insuportável...
Quando Cláudia chegou com a caixa, logo apanhou o anti-séptico e espirrou-o sobre o ferimento. Nossa, como aquilo ardia! Logo depois, com duas gazes, a pequena fizera um curativo, enfaixando meu braço em seguida. Mel então passara em frente à porta perguntando o que havia acontecido. Disse que era um corte que provavelmente tinha sido causado por alguma planta onde eu estava, e que estava tudo bem. Depois de enfaixada, eu ouvi Bianca chamando para o jantar. Cláudia então se levantou e estendeu a mão para que eu me levantasse também. Eu gostava do jeito que ela me tratava...
Sentadas à mesa de jantar, todas estávamos plenamente de bom humor. Sim, cada uma perguntou sobre meu braço e eu expliquei a todas de uma vez, e elas ficaram menos preocupadas. Menos Júlia, que parecia me tratar como se eu fosse uma criança, me dizendo para tomar cuidado e repetindo que ela poderia cuidar de mim. Ela deve ter repetido isso 3 vezes durante a conversa. Quando foi repetir a quarta vez, Cláudia a interrompeu, alterando levemente o tom de voz:
— Tá, mas eu cuidei dela, pronto, chega!
Bianca olhou-a com desconfiança. Júlia mal abriu a boca: apenas abaixou a cabeça, com o rosto vermelhíssimo. As outras duas meninas apenas fizeram cara de espanto, retirando seus pratos vazios. Eu era a única que não comia salada?
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