quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Para quem pode me ouvir sussurrar. 46

— Eu... Sinto muito... Mas pode contar comigo, pequena, eu vou estar aqui, te esperando...

Um mês... Um mês sem poder ficar perto dela, seria uma tortura e tanto...

— Eu vou embora amanhã...

Amanhã?! Ela podia pelo menos esperar até que estivesse recuperada... Meu corpo se lotava de um desespero, de uma sensação horrível de estar longe dela, de repente...

(Não consigo tirar você de minha cabeça, de meus pensamentos... É como se tivessem te cravado em queimadura na minha mente, e eu não quero que você saia daqui, do meu alcance, dos meus braços... Não quero estar a mais de um metro de distância do seu corpo, não poder ver os seus olhos, não poder sentir seu cheiro, não poder olhar cada passo seu, cada vez que você tropeçar, não poder te segurar, te ajudar a levantar... Eu quero poder te carregar em minha alma...)

— ..posso? — Deixei escapar, num murmúrio, como se eu sentisse que ela ouvia meus pensamentos. Cláudia me olhou com a expressão confusa, os olhos não mais lacrimejando, o rosto corado parecendo mais calmo. Eu resolvi admitir... Mas gaguejei mil vezes pra isso — Posso.. Te... Carregar... Te carregar comigo... — Então, respirei fundo, e falei como num tiro — Te carregar na minha alma..

Eu havia desviado o olhar, e sentia que ela me olhava. Não, eu nunca acreditei em alma... E não acreditava então. Mas dizer "alma" era uma forma de unir a lembrança, e aquela sensação de que o coração vai sair pulando quando a lembrança é ativada. De repente, senti seus dedos tocarem meu rosto devagar... Fazendo com que eu a olhasse nos olhos. Ela sorria... Era um sorriso lindo... E quando nossos olhos se encontraram, eu pude sentir meu rosto queimar, até que vi que ela acenava positivamente com a cabeça.

— Me carrega contigo onde for... Só não me deixa...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Para quem pode me ouvir sussurrar. 45

— A armação era muito frágil... Deve ter quebrado em algum momento.
— É, deve ser..— Retruquei, voltando para me sentar ao seu lado. Agora eu lançava à ela um olhar de reprovação, enquanto ela me olhava como quem diz "não é minha culpa". Incrível como era orgulhosa...

Sentei-me novamente ao seu leito, e olhei em seus olhos. Estavam cansados ainda, mas pareciam felizes, sinceros.

— Me ama mesmo? — Perguntei em tom de desafio. Ela riu baixinho e me olhou com malícia.
— Te amo mais se me trouxer algo pra comer.

Eu ri, e ri alto! Ela ria comigo, até que me puxou pela mão e me deu um selinho. Como aquilo me fazia sentir bem... Então me levantei, indo até a recepção e perguntando se ela já podia comer. Quando soube que sim, fui até a lanchonete do hospital: bem melhor do que dizem nos filmes, até tinha alguns bolinhos interessantes. Comprei um pra mim, e algo salgado pra ela, nada muito cheio de frescuras. Voltando para o quarto, e abrindo-o com o quadril... Vi que ela chorava.

Ela demorou para perceber minha presença, e só me olhou quando eu havia fechado a porta ruidosamente. De repente, apressou-se para enxugar as lágrimas e respirou fundo, como se tentasse disfarçar, mas quando percebeu que era tarde demais e me viu deixando as coisas ao lado de seu leito, deixou-se ser abraçada, enquanto eu a segurava com certa firmeza e a deixava chorar sem nenhum interrogatório desagradável. Aquilo me preocupava... O que será que tinha acontecido? Eu fui e voltei tão rápido, era impossível que algo ocorresse naquele meio tempo. Não demorou muito e ela se recuperou, decifrando meu olhar de dúvida e falando baixinho:

— Vou ter que passar um mês fora da cidade... Uma prima muito querida da família faleceu, ela era mais velha do que eu e cuidava de mim sempre...

Sua voz era triste e fraca, mas com certeza sincera. Ela ainda estava em meus braços, e eu beijei-lhe delicadamente a testa próximo ao curativo, fazendo cafuné em sua nuca. Decidi não perguntar se ela queria que eu fosse com ela: era algo muito familiar, e os pais dela nunca entenderiam o que uma garota estaria fazendo como acompanhante da filha deles. Cláudia havia parado de chorar, e então se desviara de meu abraço, sentando-se na cama. O silêncio inundava aquele quarto de hospital... Até que eu tomei fôlego e falei:

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Esqueci a panela de pressão ligada no meu sonho

Sabe aquela coisinha besta de que só por que você já ficou com certa pessoa e então são amigos agora, mas mesmo assim você tem aquele certo ‘ciuminho’ bobo?
Pois é! Você sabe que isso vai passar muito em breve, antes até do que pensa, mas é incontrolável!
Como pode?
Ter ciúmes até do que não é nosso o ser humano também é capaz de sentir!
Mas fazer o que?!
Quer dizer, eu fui tão covarde e estúpida que me retirei do mesmo local que estava compartilhando com tal pessoa.
Na verdade, eu gostaria é de ter ficado lá, e entrado na conversa, e ter citado as poucas coisas que sei a respeito daquela pessoa e mostrado quão sou observadora.
Ou talvez até, ter continuado a beber até não aguentar mais e ficar quietinha na minha.
Mas ainda me pergunto se essas atitudes ou quaisquer outras seriam mesmo a melhor saída. Melhor saída uma ova! Não iam impedir de eu ter sentido aquilo e sim disfarçar o que senti!

Quer saber? Dane-se! Já passou! Já acordei mesmo e lembrei que a panela ficou no fogo!

Para quem pode me ouvir sussurrar. 44

Eu a olhei, meio preguiçosa, e respondi com calma, tentando não assustá-la:

— Um carro te acertou... Você estava de fones de ouvido e não ouviu o carro chegando, correu na frente dele. Por sorte o homem não estava correndo, e só te fez desmaiar, os médicos devem ter dito pra ti que não foi grave..
— Disseram sim.. Mas... E você? — Ela perguntava para saber o que EU estive fazendo, afinal.
— Na hora que eu te vi no chão... Achei que estivesse sonhando. Apanhei suas sapatilhas e vim até aqui no carro do responsável, e ele está na delegacia se justificando, pareceu tão preocupado quanto todos ali... Menos eu. — Dei uma pausa. — Eu me preocupei mais...

Ela sorriu, corando de leve, e olhou ao lado de sua cama. Lá estavam as sapatilhas.

Ela riu, baixinho, me olhando novamente, em sinal para que eu continuasse contando.

— Eu estava ajoelhada do teu lado... Você não parecia muito machucada, se for parar pra pensar. Inclusive...— Uma pausa, e eu me lembrei de um detalhe — O que você tinha na perna? Estava ensanguentada...

Ela fez cara de quem tentava se lembrar vagamente de algo. Quando finalmente desfez a expressão enrugada do rosto, arqueou as sobrancelhas e disse:

— Meus óculos!

Ela então afastou a roupa de hospital para olhar a própria perna. Um corte exatamente do tamanho de uma lente de óculos, costurado com poucos pontos, estava onde deveria ser o bolso dela. Eu me levantei na mesma hora e apanhei as calças dela, penduradas perto da porta, e revirei seu bolso. Por pouco, não me cortei, pois alguns cacos de vidro estilhaçado ainda ficaram no bolso, e o forro do mesmo estava totalmente rasgado. Foi quando ela disse, às minhas costas:

Para quem pode me ouvir sussurrar. 43

— Pro nosso quarto? — Rebateu a pequena, sorrindo. — O médico disse que eu devo ficar bem até amanhã... Não quer ir pra casa?

Eu balancei a cabeça negativamente. Ficaria ali o dia inteiro, e dormiria com ela se pudesse. Logo as outras meninas chegaram, e todas a abraçaram, uma de cada vez, com os olhos vermelhos e os rostos mais felizes. Eu as disse que ficaria com ela...

Devia passar das 15h00 quando todas elas foram embora e eu fiquei sozinha com Cláudia. A enfermeira disse que ela precisava descansar, e eu demorei a convencê-la de que eu ficaria quieta, apenas sentada ao lado dela na poltrona de visitas. Quando pude me sentar ao seu lado, insisti para que ela dormisse, e ela apenas concordou se eu prometesse dormir também...

Logo que sentei, relaxei meu corpo e fechei os olhos. Eles ardiam, e enquanto eu o fazia, massageava meus próprios ombros, em busca de alguma forma de relaxar. A poltrona não era das mais confortáveis, mas era suficiente para conseguir dormir. Quando abri os olhos novamente, ela estava quase adormecendo, com o olhar perdido e os olhos cerrados, e seu corpo todo já estava relaxado. Ela virara o corpo, apoiando-se no lado menos machucado, e logo adormeceu... Devia estar realmente exausta, mas eu não conseguia dormir, só precisava relaxar o corpo um pouco. Mas não existia nada mais relaxante do que vê-la dormir...

Ela descansou por pouco tempo. Eram 16h00 quando acordou, e logo sussurrou para que eu, distraída, a percebesse:

— O que aconteceu? Só me lembro de estar voltando pra casa, e de acordar aqui com meus pais...