domingo, 12 de setembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar.17

Abri os olhos, finalmente, apanhando o short e a camiseta que ela havia pegado pra mim, sem vesti-los, apenas deixando-os em minhas mãos. Eu estava realmente assustada de ter perdido um bocado de informação. Mas, na verdade, o que eu queria era dormir o dia todo. Amanhã eu procuro um emprego, amanhã eu começo o regime, amanhã eu tomo banho, amanhã eu lavo o cabelo, amanhããã!!!

— Posso ir dormir no nosso quarto, então? Meu corpo tá doendo todinho, e eu tô tonta...

— Até pode...— Disse Claudia, relutante — Mas toma um banho antes, você vai se sentir melhor. Consegue?

Antes de responder, me levantei. E tentei fazer aquele 4 com as pernas, para saber se eu estava em condições. E quem disse? Eu não conseguia nem olhar pra cima, de tão desnorteada! Nunca mais eu bebo, cara...
Logo ela percebeu que eu não conseguiria. Então, riu baixinho, e me estendeu a mão. Eu mal perguntei ou pensei, apenas segurei na mão dela. Fui andando, de cabeça baixa e olhos fechados, até que ouvi ela trancando uma porta atrás de nós. Estávamos no banheiro.
— Vai lá, toma um banho, eu espero aqui fora do box, e caso você caia ou passe mal eu te ajudo.— Disse a pequena, sentando no chão do banheiro e sorrindo para mim. Eu a olhava, meio que sem entender, mas acabei aceitando a ajuda da garota. Claro que não me despi na frente dela, entrei no box e de lá tirei minhas roupas e deixei-as no chão do banheiro, do lado de fora do box. Tinha que ficar com a cabeça abaixada o tempo todo, para não piorar a tontura. Depois de algum tempo, eu já conversava com ela:

— E o que você vai fazer?
— Bem, eu já consegui um emprego como atendente de uma clínica ortopédica, é bem tranqüilo. Não tenho vontade de fazer faculdade por enquanto. Você tem cara de inteligente, faz alguma coisa?
— Estudei muita química e física, mas prefiro a área de humanas e--

ERA O QUE FALTAVA! Escorreguei assim que estava desligando o chuveiro, e quase caí no chão. Com o susto, perdi a força nas pernas e deixei o corpo escorregar devagar pela parede, sentando nua no chão do box. Sorte que estava limpo. Logo Cláudia abriu a porta, assustada, e se ajoelhou perto de mim. Eu estava encolhida, rindo feito uma idiota da minha própria cara. Quando ela notou, começou a rir comigo, enquanto estendia a toalha pra eu apanhar, e a mão pra eu levantar. Assim que eu levantei, cobri meu corpo com a toalha. E logo ela sussurrou:

Para quem pode me ouvir sussurrar.16

— Bom dia, gata...
Nisso, beijou meu pescoço devagar, fazendo todos os cabelinhos do meu corpo se arrepiarem... — Você aguenta bem a bebida, nunca vi ninguém tão boa na cama depois de meio litro de vodka...

Boa? Eu? Caramba, e eu nem tava sabendo...
— Vou procurar emprego hoje e como as gurias não chegaram, tu fica aqui com a Cláu.
Continuou Bianca, enquanto se afastava de mim para preparar o café. Ela estava plenamente vestida, com seu toque social, realmente parecia quem ia procurar um emprego. Depois que falou de Cláudia, sua expressão mudou, e logo ela engoliu a última gota de café e saiu andando, tocando meu ombro em sinal de despedida. Assim que eu a ouvi fechando a porta, fui até a sala e joguei-me ao sofá. Não estava nada a fim de me vestir...

— Se você continuar despida assim, vou achar que está querendo provocar alguém.— Disse Cláudia, aparecendo do meu lado com as mesmas roupas de antes e sentando-se no chão, ao lado do sofá onde eu estava. Graças ao tapete sempre limpo, não era um problema sentar no chão, e quando ela recostou o rosto perto de meu ombro, continuou: — Já sabe o que vai fazer agora que terminou o colégio?

Ela era curiosa, e isso me intrigava. E quando virei-me para olhá-la nos olhos vi que nos mesmos havia algum tipo de vermelhidão diferente, como se estivessem irritados... Fora isso, o rosto dela parecia ser perfeito...

— O pior é que não sei.. Tenho dinheiro guardado na poupança, que meu pai me dá, mas preciso trabalhar... Que tem no teu olho? Tá verme---

— Lentes de contato.— Respondeu Cláudia, antes mesmo de eu terminar a frase. Eu ri baixinho, e lancei-lhe um olhar de quem entende como é. Pouco a pouco, meus olhos começaram a se fechar, devido à dor, e quando estavam completamente fechados, senti que ela me tocava devagar, e sussurrava perto do meu rosto:

— Você ainda está quente, deve ter dormido bastante... Fica aí, vou trazer algumas das tuas roupas, se alguém entra e te vê assim, vai ser vergonha nacional.

Porque ela me tratava tão bem? Eu nem a conheço direito...
Quando ela se levantou, vi que correu até o próprio quarto. E voltou.. Com minhas roupas! Eu não entendi absolutamente nada, até que ela notou minha expressão perdida e disse:

— Okay, vou te explicar tuuuuuuuudo o que você perdeu. Devia ser umas nove horas quando tu chegou com a Bia, e vocês estavam num fogo tamanho que foram direto pro quarto dela e da Jú. Enquanto vocês faziam barulho o suficiente pra despertar a curiosidade da casa toda, a Jú resolveu que ia dormir fora, e as duas gurias que eu ainda não conheci nem chegaram a vir pra casa. Como elas são um casal, e a Bia nunca pegaria a Jú, os quartos foram divididos assim, você portanto dorme comigo. Só que temos só camas de solteiro na casa, então vai ter que se espremer.

(Ah, agora tudo faz sentido. Agora meu mundo se abriu num novo leque de possibilidades. Agora tudo é claro e tudo é limpo e lindo e belo, EU PASSEI A NOITE FODENDO A BIANCA?!.)