segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Esqueci a panela de pressão ligada no meu sonho

Sabe aquela coisinha besta de que só por que você já ficou com certa pessoa e então são amigos agora, mas mesmo assim você tem aquele certo ‘ciuminho’ bobo?
Pois é! Você sabe que isso vai passar muito em breve, antes até do que pensa, mas é incontrolável!
Como pode?
Ter ciúmes até do que não é nosso o ser humano também é capaz de sentir!
Mas fazer o que?!
Quer dizer, eu fui tão covarde e estúpida que me retirei do mesmo local que estava compartilhando com tal pessoa.
Na verdade, eu gostaria é de ter ficado lá, e entrado na conversa, e ter citado as poucas coisas que sei a respeito daquela pessoa e mostrado quão sou observadora.
Ou talvez até, ter continuado a beber até não aguentar mais e ficar quietinha na minha.
Mas ainda me pergunto se essas atitudes ou quaisquer outras seriam mesmo a melhor saída. Melhor saída uma ova! Não iam impedir de eu ter sentido aquilo e sim disfarçar o que senti!

Quer saber? Dane-se! Já passou! Já acordei mesmo e lembrei que a panela ficou no fogo!

Para quem pode me ouvir sussurrar. 44

Eu a olhei, meio preguiçosa, e respondi com calma, tentando não assustá-la:

— Um carro te acertou... Você estava de fones de ouvido e não ouviu o carro chegando, correu na frente dele. Por sorte o homem não estava correndo, e só te fez desmaiar, os médicos devem ter dito pra ti que não foi grave..
— Disseram sim.. Mas... E você? — Ela perguntava para saber o que EU estive fazendo, afinal.
— Na hora que eu te vi no chão... Achei que estivesse sonhando. Apanhei suas sapatilhas e vim até aqui no carro do responsável, e ele está na delegacia se justificando, pareceu tão preocupado quanto todos ali... Menos eu. — Dei uma pausa. — Eu me preocupei mais...

Ela sorriu, corando de leve, e olhou ao lado de sua cama. Lá estavam as sapatilhas.

Ela riu, baixinho, me olhando novamente, em sinal para que eu continuasse contando.

— Eu estava ajoelhada do teu lado... Você não parecia muito machucada, se for parar pra pensar. Inclusive...— Uma pausa, e eu me lembrei de um detalhe — O que você tinha na perna? Estava ensanguentada...

Ela fez cara de quem tentava se lembrar vagamente de algo. Quando finalmente desfez a expressão enrugada do rosto, arqueou as sobrancelhas e disse:

— Meus óculos!

Ela então afastou a roupa de hospital para olhar a própria perna. Um corte exatamente do tamanho de uma lente de óculos, costurado com poucos pontos, estava onde deveria ser o bolso dela. Eu me levantei na mesma hora e apanhei as calças dela, penduradas perto da porta, e revirei seu bolso. Por pouco, não me cortei, pois alguns cacos de vidro estilhaçado ainda ficaram no bolso, e o forro do mesmo estava totalmente rasgado. Foi quando ela disse, às minhas costas:

Para quem pode me ouvir sussurrar. 43

— Pro nosso quarto? — Rebateu a pequena, sorrindo. — O médico disse que eu devo ficar bem até amanhã... Não quer ir pra casa?

Eu balancei a cabeça negativamente. Ficaria ali o dia inteiro, e dormiria com ela se pudesse. Logo as outras meninas chegaram, e todas a abraçaram, uma de cada vez, com os olhos vermelhos e os rostos mais felizes. Eu as disse que ficaria com ela...

Devia passar das 15h00 quando todas elas foram embora e eu fiquei sozinha com Cláudia. A enfermeira disse que ela precisava descansar, e eu demorei a convencê-la de que eu ficaria quieta, apenas sentada ao lado dela na poltrona de visitas. Quando pude me sentar ao seu lado, insisti para que ela dormisse, e ela apenas concordou se eu prometesse dormir também...

Logo que sentei, relaxei meu corpo e fechei os olhos. Eles ardiam, e enquanto eu o fazia, massageava meus próprios ombros, em busca de alguma forma de relaxar. A poltrona não era das mais confortáveis, mas era suficiente para conseguir dormir. Quando abri os olhos novamente, ela estava quase adormecendo, com o olhar perdido e os olhos cerrados, e seu corpo todo já estava relaxado. Ela virara o corpo, apoiando-se no lado menos machucado, e logo adormeceu... Devia estar realmente exausta, mas eu não conseguia dormir, só precisava relaxar o corpo um pouco. Mas não existia nada mais relaxante do que vê-la dormir...

Ela descansou por pouco tempo. Eram 16h00 quando acordou, e logo sussurrou para que eu, distraída, a percebesse:

— O que aconteceu? Só me lembro de estar voltando pra casa, e de acordar aqui com meus pais...