segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar. 23

Era como se as paredes pudessem me ouvir sussurrar... Como se qualquer movimento que eu fizesse com cada uma delas fosse ser descoberto. Minhas confissões deviam ser secretas, e eu confesso... Que não amo nenhuma delas. Tenho Júlia como boa companhia, Bianca como boa amiga, e Cláudia como... Um segredo. Como um segredinho, daqueles que o tio malvado pede pro sobrinho inocente guardar...

Resolvi levantar e me vestir. Apanhei uma calça social, uma camisete, e um colete. O dia estava com jeito de chuva, mas ao invés de levar um guarda-chuva eu arrumei o cabelo da mesma forma de sempre, dividido ao meio e com as ondas meio desarrumadas. Saí do quarto e sentei-me ao sofá... Uma sensação péssima de peso, de incerteza, de nó na garganta. Uma vontade de chorar mal justificada... Uma vontade de voltar pra cama.

— Eu vou ter que escolher...— Sussurrava pra mim mesma. — Eu vou ter que saber o que é certo, eu vou ter que tomar decisões... Eu não quero!— Estas últimas palavras saíram de mim como um gemido. E eu devagar me encolhia no sofá, de meias, de olhos fechados, de medo... Até que ouvi uma voz falando, baixo, de volta:

— Você só pensa em si...— Disse Júlia, com calma. Quando virei para observá-la, estava enrolada num lençol, com marcas de mordida no pescoço. — Bianca é maravilhosa... Você devia dar valor a ela, como ela dá a você, já que valor a mim nenhuma das duas deu. Acredita... Que ela falou seu nome enquanto gozava?

Aquilo só podia ser mentira...
Eu não acreditava no que estava ouvindo, no que estava vivendo. Mas Júlia tinha razão... Eu não havia pensado em mais ninguém. Mas hoje, agora, as coisas estavam começando a se encaixar melhor. Bianca deve ter estado bêbada ou alta quando brigou comigo, e deve ter gostado tanto do sexo que pensou que era eu no lugar de Júlia, que deve ter feito tão bem quanto. Só pode ser isso! Eu não sabia o que dizer, e quando finalmente abri a boca, a loira virou as costas e foi até o banheiro, enquanto Bianca saía do quarto, o rosto vermelho, e a expressão desconcertada de quem havia acabado de decepcionar uma garota. Quando ela me olhou e viu que eu a observava, disse:

— Era só mais uma, mesmo...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar. 22

Segundo dia
"Afinal, será que amar é mesmo tudo?"

Seu despertador tocava insistentemente ao lado da cama, com aquele tipo de música que te faz acordar pensando numa aula de aeróbica. Quando abri os olhos, vi que estávamos abraçadas. Ou melhor: eu, encolhidíssima com o frio da noite, e ela com o corpo junto ao meu, me envolvendo com um dos braços e entrelaçada em minhas pernas. Era a primeira vez que eu não me sentia mal em estar sendo praticamente invadida em meu espaço pessoal por outra pessoa... Ela tinha uma forma aconchegante de me abraçar.

Foi abrindo os olhos devagarzinho, e quando me viu ao lado dela, pulou de susto, dizendo:

— CARALHO, HÁ QUANTO TEMPO ISSO TAH TOCANDO?!
— Calma, acabou de começar..— Respondi, me encolhendo debaixo do cobertor depois que ela deixou de me abraçar. — Vai pro trampo?

Ela já estava de pé, e se vestindo. Murmurou um "aham" enquanto colocava a camisa do uniforme, e sentou-se de novo na cama para vestir os sapatos. Eu apanhei o celular da garota e desliguei a música irritante.

— Valeu, estava me deixando tonta.
— Disponha..— E depois de dito isso, estava quase voltando a dormir quando senti ela deitando ao meu lado e tocando meu rosto. Quando abri meus olhos, ela sorriu, e me deu um selinho demorado...
— Não vai me desejar um bom dia?
Deixei escapar uma risada baixinha, sussurrando "Tenha um bom dia" enquanto a olhava, de forma carinhosa. Depois de pouco tempo, ela saiu, apressada. E eu fiquei deitada na cama... Tentando dormir, mas com uma idéia perigosa na cabeça.. A idéia de ter que conviver com mais 5 garotas que só pensam em amor e sexo.
Sabe, nunca fui perfeita e nunca quis magoar quem magoei ou deixar quem eu deixei. Era sempre tomada por impulsos, e eu sabia que então não seria diferente. Se três das garotas daquela casa queriam algo comigo, eu teria de dispensar no mínimo duas. Duas amigas... Duas pessoas que me conhecem bem, que sabem meus fracos e fortes... Duas das pessoas que sabem evitar minhas lágrimas ou provocá-las, e isso é valioso demais para ser perdido.

Para quem pode me ouvir sussurrar. 21

— Tem algo que você não me contou?
— Não que eu saiba...
— Ela parecia bem nervosa...
— É... E o pior é que eu não entendi nada do que ela estava falando! Deve ter bebido antes de voltar pra casa ou algo do tipo...

Eu não queria admitir o meu medo de ter dito à Bianca algo que eu não devia enquanto estava bêbada, e do qual eu não lembraria. Então, ainda em choque, fui a direção de Cláudia e ela abriu espaço para que eu entrasse no quarto. Sentei-me na cama e, cansada, pedi-lhe que apagasse a luz.

— Vou dormir também. Espera só eu por o pijama, e eu recomendo que você também ponha!

Eu tinha me esquecido que estava com as roupas do jantar! Então, nos trocamos sem pressa, e enfim pudemos nos deitar. Ela apagou a luz e deitou-se ao meu lado, uma de frente para a outra. Eu estava recostada na parede, e ela parecia se aproximar de propósito... Foi em pouco tempo, e já estávamos de mãos dadas, e os rostos próximos até demais... E por um instante, eu prendi minha respiração. Eu podia sentir a dela... Eu podia sentir o ar quente de seu corpo passando pela minha pele devagarzinho... Depois de um tempo evitando respirar, notei que ela percebera, e antes que eu pudesse voltar ao normal ela sussurrou:

— Respira... Não precisamos dizer nada, só respira... Eu quero te sentir aqui...

Será que eu estava começando a gostar de uma garota no primeiro dia em que nos falamos? Aquilo parecia um sonho... E eu tinha medo de que não fosse.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar. 20

A música mudou antes que eu me desse conta. O mesmo rapaz cantava agora "Versos Simples". E foi próximo à segunda estrofe que eu finalmente tomei coragem... E toquei seus lábios nos meus, prendendo a respiração, perdendo o fôlego, perdendo o chão... Era como se aquele fosse o primeiro beijo da minha vida, como se aquela fosse a minha primeira garota! Não só pelas afinidades e pela compatibilidade das conversas, mas porque era como se nossas bocas soubessem o que fazer, se conhecessem desde sempre... Como se minha língua soubesse pra que lado a língua dela iria...

Logo, uma de suas mãos estava entrelaçando meus cabelos, e puxava-os devagar a cada mordiscada que eu dava em seu lábio inferior... E enquanto ela me mordia com certa força, eu soltava suspiros excitados... Ao fim do beijo, era como se tivéssemos um passado e um futuro certos, era como se eu tivesse certeza de que iria viver ao lado dela...

Passamos parte da noite naquele bar, conversando e ficando. Quando eram 23h00, voltamos para casa. Bianca ainda estava acordada. Quando nos viu entrando de mãos dadas, parecia querer arrancar as nossas mãos...
— Onde é que você estava?! — Perguntou Bianca, e quando eu achava que ela ia brigar com Cláudia, ela veio me puxando pela mão e me levando até o quarto onde havíamos dormido na noite passada. Tive de soltar da mão de Cláudia, e quando percebi, já estava contra a parede, com Bianca respirando ofegante e bradando contra mim:

— Depois do que tivemos, depois da chance que eu te dei e estou te dando, depois de eu passar o dia todo fora ansiosa pra te ver, você faz isso comigo?!

Não, eu não estava entendendo patavinas. A gente tinha tranzado, e não casado! E eu estava bêbada, e ela se aproveitou de mim, eu sei, eu sinto!

— Ei... Calma aí Bih, ficamos juntas uma noite, não quer dizer que---
— Não acredito. Você mal se lembra...
— Bianca, vamos fazer o seguinte... Você me diz o que eu perdi, e eu entendo e não repito o erro, que tal? — Depois que eu disse isso, sorri como se fosse a coisa mais simples do mundo. E era! Poxa o que mais podia ter acontecido? Ela broxou? Ela nem tem pau, como vai broxar!? Tivemos grandes confissões e ela me disse que nunca amou ninguém? É bem capaz!

A minha sorte foi que, depois do que eu falei, o celular de Bianca tocou. Não me disse quem era, mas assim que desligou, me fez sinal para sair de perto da porta e abriu-a com força, indo em direção à sala e saindo de casa com pressa. Enquanto eu a observava, assustada, Cláudia me olhava frente a frente, na porta de nosso quarto.

Para quem pode me ouvir sussurrar.19

— O que? Nunca, com nenhuma?
— Nunca, mas sempre tive curiosidade! Sou amiga da Bianca faz tempo e ela sempre ficou com meninas, mas eu nunca tive coragem. Foi meio que assim que ela me convidou pra vir pra cá...

Uma garota que nunca havia beijado outra garota... Sinceramente, meu sonho de consumo.
Cláudia era interessantíssima. Mais alguns assuntos e, eu já estaria a convidando para jantar fora, em algum lugar tranquilo. Ela aceitou e assim que íamos saindo, Mel e Clarice entraram na sala, aos beijos ardentes, deixando a porta aberta. Deixamos elas passarem, e fomos pra um barzinho a pé mesmo.

Chegando lá, sentamos uma do lado da outra numa mesa perto da parede, e pedimos cada uma um lanche e continuamos conversando. Era incrível como não parávamos de falar! E eu estava adorando ouvir aquela voz, sentir a química que tínhamos, meio que sem querer. Eram também muitas as nossas diferenças, como gostos musicais, hobbies, crenças e etc. Como o bar era daqueles com MPB ao vivo, logo um rapaz começou a tocar, e nós estávamos bem de frente para ele. Nisso, ficamos em silêncio por um instante, quando eu disse enfim:

— Gostei de você!

Sim, eu sempre falava isso. Era o tipo de coisa que deixava as pessoas mais encabuladas, e eu adorava vê-las daquele jeito. Então, ela sorriu, olhando para baixo com o rosto corado. Enquanto isso, ouvia-se ao longe o rapaz cantando "Estranho seria se eu não me apaixonasse por você...". Enquanto ele continuava a canção, nós trocamos olhares... Olhares ternos, olhares simples... E ela respondeu:

— Eu também gostei de você...

Era simples. Ainda nos olhávamos, e minha mão tocou a dela com calma. Era macia... Era suave, como se combinasse com a minha. Eu sorria, ainda olhando-a nos olhos, até que ela desviou o olhar. Era mais tímida do que transparecia... E foi quando eu e aproximei de seu rosto, com calma, e esperei que ela virasse de novo. Quando enfim tornou a me olhar... Estávamos a menos de um palmo de distância uma da outra...
Ficamos ali por alguns segundos... Ela parecia querer fugir, e ao mesmo tempo se entregar, como a criança curiosa que tem medo de descobrir que não era bem aquilo que ela esperava. Toquei, com a outra mão, o rosto da garota... Estava quente, mas não febril, e ela parecia nervosa... Mas era como se eu dependesse daquilo... Era como se eu precisasse... Como se nada fosse mais certo e mais calmo do que um primeiro beijo...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar.18

— Não sei pra que tanta vergonha... Teu corpo é lindo.
(Eu não sou do tipo que fica quieta. Meio bêbada então...)
— Ah... Você gostou?— Perguntei, maliciosa. Ela parecia ter ficado intimidada com o fato de eu ter retribuído a investida. Então, eu comecei a aproximar o corpo do dela, pressionando-a contra a parede, enquanto segurava a minha toalha com uma das mãos. E eu sorri, sussurrando:

— Vai dormir do meu lado por muito tempo, então é melhor se comportar.

E saí do banheiro, com as roupas nas mãos, indo até nosso quarto e trancando a porta para me vestir.
Assim que terminava de vestir minha roupa íntima, ouvi batidas na porta.

— ABRE ESSA PORTA! — Bradou Cláudia, rindo alto da brincadeira que eu tinha feito. Vesti meu short e abri a porta, usando um top esportivo no lugar do sutiã.
— Vai se comportar?
— Não sou nenhuma criança! — Riu-se, entrando no quarto e fechando a porta logo atrás. — Não tenho porque me comportar... E outra, eu estava me organizando, com você aqui esse quarto vai virar uma biblioteca que eu sei.

Ela sabia mais de mim do que eu pensava! Ríamos, tranquilas, enquanto nos sentávamos à cama. Era pequena, e encostada na parede. O quarto era todo cheio de bugigangas cor-de-rosa ou roxas, tênis jogados no chão, e um sutiã florido pendurado no canto da cama. Quando eu vi aquilo, comecei a rir enquanto ela corria para apanhá-lo e guardar em algum lugar.

— Não sou nenhuma visita, você vai ver os meus por aí também!
— Não quero ver só seus sutiãs...

Depois disso, nos olhamos. Ela era maliciosa, e sabia como me levar... Sabia o que dizer pra me provocar, mas parecia ter medo de que eu retribuísse. Continuamos conversando depois daquilo. Falamos de tudo: Ela era como eu, do sul da capital São Paulo, e pintava o cabelo de preto, gostava de gatos, era pouco mais nova que eu, cozinhava, e o que mais me impressionou:

domingo, 12 de setembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar.17

Abri os olhos, finalmente, apanhando o short e a camiseta que ela havia pegado pra mim, sem vesti-los, apenas deixando-os em minhas mãos. Eu estava realmente assustada de ter perdido um bocado de informação. Mas, na verdade, o que eu queria era dormir o dia todo. Amanhã eu procuro um emprego, amanhã eu começo o regime, amanhã eu tomo banho, amanhã eu lavo o cabelo, amanhããã!!!

— Posso ir dormir no nosso quarto, então? Meu corpo tá doendo todinho, e eu tô tonta...

— Até pode...— Disse Claudia, relutante — Mas toma um banho antes, você vai se sentir melhor. Consegue?

Antes de responder, me levantei. E tentei fazer aquele 4 com as pernas, para saber se eu estava em condições. E quem disse? Eu não conseguia nem olhar pra cima, de tão desnorteada! Nunca mais eu bebo, cara...
Logo ela percebeu que eu não conseguiria. Então, riu baixinho, e me estendeu a mão. Eu mal perguntei ou pensei, apenas segurei na mão dela. Fui andando, de cabeça baixa e olhos fechados, até que ouvi ela trancando uma porta atrás de nós. Estávamos no banheiro.
— Vai lá, toma um banho, eu espero aqui fora do box, e caso você caia ou passe mal eu te ajudo.— Disse a pequena, sentando no chão do banheiro e sorrindo para mim. Eu a olhava, meio que sem entender, mas acabei aceitando a ajuda da garota. Claro que não me despi na frente dela, entrei no box e de lá tirei minhas roupas e deixei-as no chão do banheiro, do lado de fora do box. Tinha que ficar com a cabeça abaixada o tempo todo, para não piorar a tontura. Depois de algum tempo, eu já conversava com ela:

— E o que você vai fazer?
— Bem, eu já consegui um emprego como atendente de uma clínica ortopédica, é bem tranqüilo. Não tenho vontade de fazer faculdade por enquanto. Você tem cara de inteligente, faz alguma coisa?
— Estudei muita química e física, mas prefiro a área de humanas e--

ERA O QUE FALTAVA! Escorreguei assim que estava desligando o chuveiro, e quase caí no chão. Com o susto, perdi a força nas pernas e deixei o corpo escorregar devagar pela parede, sentando nua no chão do box. Sorte que estava limpo. Logo Cláudia abriu a porta, assustada, e se ajoelhou perto de mim. Eu estava encolhida, rindo feito uma idiota da minha própria cara. Quando ela notou, começou a rir comigo, enquanto estendia a toalha pra eu apanhar, e a mão pra eu levantar. Assim que eu levantei, cobri meu corpo com a toalha. E logo ela sussurrou:

Para quem pode me ouvir sussurrar.16

— Bom dia, gata...
Nisso, beijou meu pescoço devagar, fazendo todos os cabelinhos do meu corpo se arrepiarem... — Você aguenta bem a bebida, nunca vi ninguém tão boa na cama depois de meio litro de vodka...

Boa? Eu? Caramba, e eu nem tava sabendo...
— Vou procurar emprego hoje e como as gurias não chegaram, tu fica aqui com a Cláu.
Continuou Bianca, enquanto se afastava de mim para preparar o café. Ela estava plenamente vestida, com seu toque social, realmente parecia quem ia procurar um emprego. Depois que falou de Cláudia, sua expressão mudou, e logo ela engoliu a última gota de café e saiu andando, tocando meu ombro em sinal de despedida. Assim que eu a ouvi fechando a porta, fui até a sala e joguei-me ao sofá. Não estava nada a fim de me vestir...

— Se você continuar despida assim, vou achar que está querendo provocar alguém.— Disse Cláudia, aparecendo do meu lado com as mesmas roupas de antes e sentando-se no chão, ao lado do sofá onde eu estava. Graças ao tapete sempre limpo, não era um problema sentar no chão, e quando ela recostou o rosto perto de meu ombro, continuou: — Já sabe o que vai fazer agora que terminou o colégio?

Ela era curiosa, e isso me intrigava. E quando virei-me para olhá-la nos olhos vi que nos mesmos havia algum tipo de vermelhidão diferente, como se estivessem irritados... Fora isso, o rosto dela parecia ser perfeito...

— O pior é que não sei.. Tenho dinheiro guardado na poupança, que meu pai me dá, mas preciso trabalhar... Que tem no teu olho? Tá verme---

— Lentes de contato.— Respondeu Cláudia, antes mesmo de eu terminar a frase. Eu ri baixinho, e lancei-lhe um olhar de quem entende como é. Pouco a pouco, meus olhos começaram a se fechar, devido à dor, e quando estavam completamente fechados, senti que ela me tocava devagar, e sussurrava perto do meu rosto:

— Você ainda está quente, deve ter dormido bastante... Fica aí, vou trazer algumas das tuas roupas, se alguém entra e te vê assim, vai ser vergonha nacional.

Porque ela me tratava tão bem? Eu nem a conheço direito...
Quando ela se levantou, vi que correu até o próprio quarto. E voltou.. Com minhas roupas! Eu não entendi absolutamente nada, até que ela notou minha expressão perdida e disse:

— Okay, vou te explicar tuuuuuuuudo o que você perdeu. Devia ser umas nove horas quando tu chegou com a Bia, e vocês estavam num fogo tamanho que foram direto pro quarto dela e da Jú. Enquanto vocês faziam barulho o suficiente pra despertar a curiosidade da casa toda, a Jú resolveu que ia dormir fora, e as duas gurias que eu ainda não conheci nem chegaram a vir pra casa. Como elas são um casal, e a Bia nunca pegaria a Jú, os quartos foram divididos assim, você portanto dorme comigo. Só que temos só camas de solteiro na casa, então vai ter que se espremer.

(Ah, agora tudo faz sentido. Agora meu mundo se abriu num novo leque de possibilidades. Agora tudo é claro e tudo é limpo e lindo e belo, EU PASSEI A NOITE FODENDO A BIANCA?!.)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar.15

— Não... Eu sou a de ressaca que nunca bebe e resolveu exagerar ontem à noite...
Eu não conseguia ser muito alegre, minha cabeça podia cair a qualquer instante e eu tinha que segura-la. Sentei-me à mesa e abaixei a cabeça, como se esperasse a dor passar sozinha. Alguns instantes depois, ouvi os passos da garota, enquanto ela se sentava ao meu lado, tomando achocolatado. Parecia uma criança...

Levantei-me na MAIOR BOA VONTADE pra preparar meu café. (Custava oferecer ajuda? Tô bêbada, pombas u.u'). Depois de pronto, sentei-me ao lado dela. A única coisa que ela disse foi:

— Se sente confortável andando assim pela casa? Não que me incomode, mas você parece tão mal que acho que nem notou que está de calcinha e sutiã...

Claro que eu sei que estou semi-nua e descabelada, mas você acha mesmo que eu ligo?!
— Ah, sei sim, não se preocupe!
Sorri, simpática, a dor ainda forte mas melhorando conforme eu tomava o café. Então a garota se levantou e apanhou um pequeno comprimido numa bolsa ao canto da cozinha, e me entregou. Era um daqueles comprimidos anti-pessoa-que-bebeu-pra-caralho, você toma e fica sóbrea e sem dor de cabeça! Pelo menos é o que a propaganda diz.

Agradeci baixinho, enquanto ela voltava a se sentar. Com uma voz macia, boa de se escutar, ela disse, estendendo a mão:

— Prazer, Cláudia! Fiz o colegial normal e vim pra cá quando soube que haveria uma república feminina. Arrumei a casa pra quando vocês chegassem.

(Além de tudo, ela ainda é prendada, arruma a casa, é comunicativa. E gente!! Eu adorei esse sorriso...)

— Ah, muito prazer! Sou a Gabriela, a menos problemática das gurias.

Eu sei que aquilo havia sido narcisista, mas era verdade. Uma vadia, um casal de desreguladas e uma garota que pega e larga 10 pessoas diferentes em uma semana, fazendo as 10 se apaixonarem.. Eu era bem comum com minha mania de nerdisse.

Ainda nos olhávamos. Eu sorria, com o olhar cansado, e ela também. Quando ela finalmente desviou o olhar, parecia tímida, e riu baixinho enquanto se levantava e arrumava a cadeira. Tocou meu ombro em forma de despedida, e foi para um dos quartos, provavelmente onde ela havia dormido. Não havia nenhum mísero som na casa toda... E eu me sentia pesada como uma rocha. Depois de algum tempo, ouvi finalmente passos no corredor, e quando olhei, Bianca andava em minha direção. Ao chegar perto de mim, massageou meus ombros e abaixou-se até chegar ao meu ouvido, sussurrando:

domingo, 5 de setembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar. 14

Primeiro Dia
"And breathe... Just breathe..." (Anna Nalick)

É incrível como um ser humano pode ser frágil, fraco, fácil... Como a vida de uma pessoa pode mudar com um jogo, com uma garrafa, com um beijo, um momento talvez... A última coisa da qual eu podia me lembrar enquanto abria os olhos com esforço, tentando encontrar um foco e um modo de amenizar minha dor de cabeça, era de que eu estava viva. O resto tinha sumido completamente dos meus sentidos. Virei-me para o lado, em busca de um cobertor, e acabei por tocar em Bianca (O que eu só fui perceber mesmo quando abri totalmente os olhos e a vi). Estava quase nua, e adormecida. Estávamos numa cama pequena, de solteiro, e tudo o que eu queria era uma xícara de café do tamanho da garrafa de vodka de ontem, só que desta vez eu tomaria inteira. A cafeína vicia uma pessoa, e eu sou facilmente “viciável”.

Caminhei preguiçosamente até a cozinha, sem me preocupar em estar usando apenas minha roupa íntima. Meu sutiã ainda tinha certo cheiro de limão, e eu com certeza o lavaria mais tarde. Quando finalmente cheguei ao aposento, avistei outro corpo feminino, este um pouco mais baixo e mais vestido. Como estava de costas, não pude reconhecer, mas tinha certeza de que não era nenhuma de nós 5. Seus cabelos negros tinham um corte moderno, e as pontas mais longas da frente davam voltas singelas e delicadas para fora, mas isso era tudo o que eu conseguia ver além das costas bem definidas da garota. Vestia uma regata branca, e eu podia ver o contorno exato de sua cintura, enquanto os shorts minúsculos deixavam à mostra coxas das quais eu nunca tive a consciência que poderiam existir tão belas. Talvez por ser baixa, não tinha as canelas finas e sem graça das garotas que dormiam comigo naquele colégio, e estava descalça mostrando pés pequenos e baixos. Meus pés eram altos, literalmente: Eu apenas calçava 39 pois o peito de meus pés era mais alto que o normal, devido ao tamanho exagerado de minha massa óssea. Sussurrei, quase explodindo de dor:

— Bom dia...
A garota quase pulou de susto ao me ver!

— Ah, bom dia... Júlia me disse que todas acordavam super tarde, você é a quebra-regras por acaso?

Que olhos... Eram castanhos e qualquer um que não fosse grande admirador da beleza simplista diria que eram olhos quaisquer, mas eram lindos... Olhos quase de mulher, quase de gato, como se estivessem a espreita desde que eu estivera deitada em primeiro lugar, como se soubessem o que eu estava pensando só de me olhar... E um sorriso desafiador e debochado.