terça-feira, 21 de setembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar. 20

A música mudou antes que eu me desse conta. O mesmo rapaz cantava agora "Versos Simples". E foi próximo à segunda estrofe que eu finalmente tomei coragem... E toquei seus lábios nos meus, prendendo a respiração, perdendo o fôlego, perdendo o chão... Era como se aquele fosse o primeiro beijo da minha vida, como se aquela fosse a minha primeira garota! Não só pelas afinidades e pela compatibilidade das conversas, mas porque era como se nossas bocas soubessem o que fazer, se conhecessem desde sempre... Como se minha língua soubesse pra que lado a língua dela iria...

Logo, uma de suas mãos estava entrelaçando meus cabelos, e puxava-os devagar a cada mordiscada que eu dava em seu lábio inferior... E enquanto ela me mordia com certa força, eu soltava suspiros excitados... Ao fim do beijo, era como se tivéssemos um passado e um futuro certos, era como se eu tivesse certeza de que iria viver ao lado dela...

Passamos parte da noite naquele bar, conversando e ficando. Quando eram 23h00, voltamos para casa. Bianca ainda estava acordada. Quando nos viu entrando de mãos dadas, parecia querer arrancar as nossas mãos...
— Onde é que você estava?! — Perguntou Bianca, e quando eu achava que ela ia brigar com Cláudia, ela veio me puxando pela mão e me levando até o quarto onde havíamos dormido na noite passada. Tive de soltar da mão de Cláudia, e quando percebi, já estava contra a parede, com Bianca respirando ofegante e bradando contra mim:

— Depois do que tivemos, depois da chance que eu te dei e estou te dando, depois de eu passar o dia todo fora ansiosa pra te ver, você faz isso comigo?!

Não, eu não estava entendendo patavinas. A gente tinha tranzado, e não casado! E eu estava bêbada, e ela se aproveitou de mim, eu sei, eu sinto!

— Ei... Calma aí Bih, ficamos juntas uma noite, não quer dizer que---
— Não acredito. Você mal se lembra...
— Bianca, vamos fazer o seguinte... Você me diz o que eu perdi, e eu entendo e não repito o erro, que tal? — Depois que eu disse isso, sorri como se fosse a coisa mais simples do mundo. E era! Poxa o que mais podia ter acontecido? Ela broxou? Ela nem tem pau, como vai broxar!? Tivemos grandes confissões e ela me disse que nunca amou ninguém? É bem capaz!

A minha sorte foi que, depois do que eu falei, o celular de Bianca tocou. Não me disse quem era, mas assim que desligou, me fez sinal para sair de perto da porta e abriu-a com força, indo em direção à sala e saindo de casa com pressa. Enquanto eu a observava, assustada, Cláudia me olhava frente a frente, na porta de nosso quarto.

Para quem pode me ouvir sussurrar.19

— O que? Nunca, com nenhuma?
— Nunca, mas sempre tive curiosidade! Sou amiga da Bianca faz tempo e ela sempre ficou com meninas, mas eu nunca tive coragem. Foi meio que assim que ela me convidou pra vir pra cá...

Uma garota que nunca havia beijado outra garota... Sinceramente, meu sonho de consumo.
Cláudia era interessantíssima. Mais alguns assuntos e, eu já estaria a convidando para jantar fora, em algum lugar tranquilo. Ela aceitou e assim que íamos saindo, Mel e Clarice entraram na sala, aos beijos ardentes, deixando a porta aberta. Deixamos elas passarem, e fomos pra um barzinho a pé mesmo.

Chegando lá, sentamos uma do lado da outra numa mesa perto da parede, e pedimos cada uma um lanche e continuamos conversando. Era incrível como não parávamos de falar! E eu estava adorando ouvir aquela voz, sentir a química que tínhamos, meio que sem querer. Eram também muitas as nossas diferenças, como gostos musicais, hobbies, crenças e etc. Como o bar era daqueles com MPB ao vivo, logo um rapaz começou a tocar, e nós estávamos bem de frente para ele. Nisso, ficamos em silêncio por um instante, quando eu disse enfim:

— Gostei de você!

Sim, eu sempre falava isso. Era o tipo de coisa que deixava as pessoas mais encabuladas, e eu adorava vê-las daquele jeito. Então, ela sorriu, olhando para baixo com o rosto corado. Enquanto isso, ouvia-se ao longe o rapaz cantando "Estranho seria se eu não me apaixonasse por você...". Enquanto ele continuava a canção, nós trocamos olhares... Olhares ternos, olhares simples... E ela respondeu:

— Eu também gostei de você...

Era simples. Ainda nos olhávamos, e minha mão tocou a dela com calma. Era macia... Era suave, como se combinasse com a minha. Eu sorria, ainda olhando-a nos olhos, até que ela desviou o olhar. Era mais tímida do que transparecia... E foi quando eu e aproximei de seu rosto, com calma, e esperei que ela virasse de novo. Quando enfim tornou a me olhar... Estávamos a menos de um palmo de distância uma da outra...
Ficamos ali por alguns segundos... Ela parecia querer fugir, e ao mesmo tempo se entregar, como a criança curiosa que tem medo de descobrir que não era bem aquilo que ela esperava. Toquei, com a outra mão, o rosto da garota... Estava quente, mas não febril, e ela parecia nervosa... Mas era como se eu dependesse daquilo... Era como se eu precisasse... Como se nada fosse mais certo e mais calmo do que um primeiro beijo...