sábado, 30 de outubro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar. 32

— Sei que não preciso dizer isso, mas vou porque confio em ti... Bianca me beijou depois de tudo aquilo. Não, ela... Ela não me beijou. — Cláudia parecia frustrada e confusa quando continuei: — Nos beijamos.

Nunca uma pessoa é beijada, simplesmente. Um beijo é feito de duas pessoas.

Cláudia abaixou o rosto. Parecia profundamente ferida. Foi quando eu toquei seu queixo, fazendo-a olhar pra mim, e disse:

— Mas quero que saiba que isso não muda a minha escolha... Que eu não a afastei do beijo porque senti que o momento pedia aquilo pra ela se acalmar... E que não vou deixar acontecer de novo.

A pequena morena ainda parecia ofendida demais para falar alguma coisa, até que finalmente quebrou o próprio silêncio, cruzando os braços e dizendo:

— Você não me deve nada! Nem estamos namorando, mesmo...

Ela estava certa, não estávamos... Mas ela se sentia traída, e eu me sentia uma traidora. Foi quando toquei um de seus ombros e sussurrei:

— Ainda não... Mas te prometo que vou me tornar alguém melhor, antes de ter você...

Ela parecia não ser afetada, mas eu falava sério. Ela merecia algo melhor do que alguém que não sabe dizer não. Mas, me surpreendendo, ela virou e me olhou nos olhos, como se entendesse a situação. E eu a puxei devagar pela mão, custando a fazê-la se aproximar. Quando finalmente consegui, beijei-lhe a testa, e sussurrei:

— Vou aprender a cuidar de você, anjo...
Após receber o beijo na testa, Cláudia ainda parecia insatisfeita. Então, toquei seu rosto, e sorri, naquela atitude que tantas pessoas acham ultra cafajeste mas que eu sempre fiz com sinceridade.

— Você fica linda nervosa..

— Não adianta tentar me agradar!— Retrucou a garota, me olhando impaciente. Eu continuei sorrindo, em sinal de que eu queria que aquilo passasse, e finalmente ela bufou alto e disse: — Tá bom, tá bom! Eu paro de frescura, não sou sua dona nem nada do tipo, mas você vai ter que me aguentar de mal humor!

— Logo você melhora, toda mulher adora fazer compras!— Respondi, abraçando-a com um dos braços enquanto via o ônibus chegar e sinalizava que parasse com o outro.

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Para quem pode me ouvir sussurrar. 31

— Eu não preciso te amar loucamente pra estar do seu lado quando você precisar...
Ela me abraçava com muita força, soluçando de tanto chorar. E eu, agora, estava em silêncio. Doía demais saber que uma grande amiga fora desapontada daquela forma, e por mim, justamente por mim... Foi quando eu me afastei de leve e a olhei nos olhos, tocando seu rosto e enxugando suas lágrimas, ainda sem dizer nada. Depois disso, me levantei devagar e estendi minhas mãos para que ela se levantasse comigo. Ela segurou-as com firmeza e se levantou, voltando a me abraçar com força em seguida e soluçando em meus ombros, enquanto eu a apertava contra meu corpo, contendo meu choro para que ela não ficasse mais aflita. Quando finalmente pudemos nos olhar nos olhos como antes, eu sorri, compreensiva, com uma expressão que misturava carinho e pena. Ela sorriu de volta, e sussurrou:

— Eu vou ficar bem...

Então, ela tocou meu rosto, e acariciou-o com a ponta dos dedos. Era como se não houvesse mais ninguém ali... E depois que as garotas haviam virado as costas, depois que tudo parecia estar bem, Bianca sussurrou mais uma coisa:

— Eu só preciso fazer uma coisa, pra que você nunca se esqueça...

Dito isso... Ela aproximou seus lábios dos meus. E me beijou demoradamente, sem fazer barulho, sem nenhum roçar de línguas, sem nada que nos fizesse partir dali para algo mais. Um beijo simples... Onde eu podia sentir os lábios dela quentes, levemente úmidos, levemente doces graças a algum tipo de brilho labial, tocando os meus de forma demorada e uniforme, sem mudar, sem se mover, como num selinho, como se posássemos para uma foto... E eu não conseguia respirar. A atmosfera estava pesada, minha consciência estava pesada, meus olhos estavam fechados quase à força e eu tenho certeza de que aquilo deve ter durado, no máximo, 7 segundos...

Depois daquele beijo, ela simplesmente se virou e foi até o quarto. Enquanto isso, eu fui até a sala, de encontro com Cláudia, e murmurei "Vamos sair?". Ela logo apanhou as coisas dela no quarto, um tanto desanimada, e saímos, com os olhares das garotas nos perseguindo.

— Que barra...— Murmurou Cláudia, segurando na minha mão como se fosse eu a vítima. Então, quando já estávamos longe da casa e próximas a um ponto de ônibus, eu a olhei de frente e segurei suas mãos, falando com a expressão séria:

Para quem pode me ouvir sussurrar. 30

Alguém aqui já bebeu o bastante para não estar ciente do que houve? Eu nunca tinha bebido tanto quanto naquela noite. Aliás, nunca tinha bebido mais do que um dedo de um copo de vinho! Eu não me lembrava de absolutamente nada do que havíamos feito ou dito uma à outra depois do incidente no banheiro do bar...

Ela disse que me amava? Bianca realmente amou alguém na vida, e esse alguém era justamente eu? Eu, a menina que sempre achou que ela fosse a cafajestagem em pessoa, que sempre soube dos podres dela, que sempre desconfiou que ela pudesse ser algum tipo de criminosa de tão traiçoeira e ao mesmo tempo simpática que ela podia ser, sem se sentir culpada por isso. E então, começaram a acontecer coisas que eu nunca imaginei que pudessem acontecer...

Bianca começou a caminhar em direção à parede e, lá, recostou-se.

— Eu tive o melhor sexo da minha vida com a primeira pessoa que eu sinto que realmente amo e tudo é estragado quando você simplesmente... — Então ela engasgou-se, num soluço choroso, e deixou as lágrimas rolarem. — Simplesmente me faz perceber que foi tudo mentira!

A esse ponto, as garotas já observavam de longe, no corredor. Sem dar atenção a elas, andei em direção à Bianca, e me abaixei ao seu lado, sussurrando:

— Não foi mentira... Você só se enganou... Não quer dizer que eu não tenha gostado de estar contigo... Eu gostei de tudo o que consigo me lembrar, e tenho certeza que gostaria do que não me lembro.. Mas não quero te magoar, dizendo que te amo sem te amar agora, Bih... Posso estar do teu lado e te ajudar a conviver com isso, mas não posso garantir que será recíproco...

Ela estava se acalmando. A idéia de não perder a minha amizade parecia deixá-la menos frustrada com tudo aquilo. Ela se encolhia contra a parede, como se tivesse nojo da idéia de... Da idéia de me perder, e aquilo me matava...

Então, aproximei-me e abracei-a, enquanto falava:

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurar. 29

— Precisamos conversar. Cláudia, por favor, leva as gurias pra sala ou pra algum lugar, é um assunto sério.

Cláudia parecia totalmente perturbada com a atitude da amiga, mas ao ver que esta a olhava de forma constrangedora de se negar, aceitou. Quando finalmente estávamos sozinhas na cozinha, Bianca me fitou os olhos de forma aterrorizante, como se pudesse me matar só com o pensamento, e respirou fundo, numa expressão impaciente. E não soltava a minha mão por nada, mostrando em sua pele branca e perfeita a dor de se sentir corar, coisa que ela raramente deixava acontecer.

— Você não vai fugir. — Começou a pseudo-ruiva, sem quebrar o olhar entre nós duas. — Você não vai se levantar e sair andando, nem vai me dizer que não sabe do que eu estou falando, não dou a permissão pra que você faça isso!

Eu apenas acenei positivamente com a cabeça, com receio do que ela pudesse me falar.
(Fodeu, ela vai dizer que tá grávida o.õ)
Depois que aceitei todas as ordens da madame, ela respirou fundo mais uma vez e, pela primeira vez na história da nossa história, desviou o olhar de meus olhos...

— Sim... Você estava bêbada, mais do que o normal, você nunca bebe e resolveu aceitar a garrafa que eu te passei. Não importa o que eu sentia antes daquela noite, nunca te contei... Mas naquela noite, quando eu te disse aquilo e você sorriu eu pensei que você estivesse acordada! Eu pensei que você estivesse escutando!

Eu não era permitida de perguntar... Mas era irresistível:

— Bih, diz logo, o que aconteceu?

— EU DISSE QUE TE AMAVA, PORRA! — Bradou Bianca, levantando-se com força e deixando a cadeira cair. Eu pude ouvir, em seguida, os murmúrios vindos da sala, das garotas curiosas. — Eu disse e você sorriu e agora eu te vejo com outra garota, morando na mesma casa que eu, como se não tivesse acontecido nada, como se eu não fosse ninguém! Você não tem esse direito, você não é ninguém pra fazer isso, NINGUÉM!

Ela estava incrivelmente alterada. Não parecia a serena e bem-humorada Bianca do colegial. E eu estava pasma, olhando-a com ar surpreso, e sem saber o que dizer ou fazer... Minha boca estava aberta, mas dela não saía nenhum som, ou pelo menos nenhum audível... Eu não sabia o que fazer, não sabia!

sábado, 9 de outubro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurar. 28

Ela sorriu. Sorriu, me permitindo, sorriu sabendo que aquele momento marcaria a vida dela, e provavelmente a minha também... E então, eu fui descendo meus dedos devagarzinho, afastando os shorts de seu pijama, juntamente com sua calcinha... E aproximei a ponta de meus dedos suavemente ao seu sexo, pressionando-o suavemente e fazendo por ali movimentos lentos e circulares... Enquanto eu a ouvia arfar devagarzinho...Senti um certo orgulho ao perceber que a morena estava completamente molhada e desejosa. Tinha de ser perfeito mais a ela do que para mim.

Quando acordamos e começamos, era quase meio dia. Quando eu finalmente pude ouvi-la gozar, e ela fizera o mesmo comigo depois de um (muito) bom tempo, e depois que ambas deitamos uma ao lado da outra como antes, já passava das 14h00... Meu rosto estava vermelho, nossas costas suadas, nossos cabelos úmidos, nossas respirações arfantes... E sorríamos. Aquele tinha sido o melhor sexo da minha vida...

Então, ouvimos batidas na porta e Mel chamava para o almoço. Ao que parecia, todas as garotas haviam acordado mais ou menos agora. Nunca contei pra ninguém... Mas quanto melhor fosse a companheira na cama, mais faminta eu ficava depois de fazer amor. Então, segurei sua mão próxima ao meu rosto e beijei-a, dizendo em seguida num tom de vítima:

— Vamos? Você me deixou exausta e eu preciso de energias!

Cláudia soltou uma gargalhada deliciosa de ouvir! E me abraçou, me dando um selinho estalado, e dizendo um "Tá bem!" em meio a risadas. Nos levantamos, nos vestimos, e fomos comer... Comida.

Sentamo-nos então à mesa para o almoço. Todas as garotas de pijamas, e só nós duas já com as roupas que usaríamos pelo dia. Comemos muito depressa, ninguém falava e a mesa de madeira e vidro estava mais entusiasmada do que todas elas juntas. Apenas eu e Cláudia conversávamos, animadas, sobre planos do que faríamos no meu primeiro sábado fora do colégio!

Depois que decidimos que iríamos fazer compras (Afinal meu guarda-roupa estava parecendo um deserto), ela se levantou, levando meu prato e o prato dela. Quando fui me levantar, Bianca pegou minha mão.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurar. 27

Terceiro Dia
"Olhar teus olhos de promessas fáceis..."

Ao sentir que meu corpo despertava, devagar abri os olhos. A pequena deitada ao meu lado me observava com calma. Estranhei o fato do despertador não tocar, e quando olhei para o relógio e vi que era quase meio dia, me lembrei de um detalhe maravilhoso: era sábado. E ela me olhava... Ela me olhava enquanto uma janelinha entreaberta deixava a luz entrar no quarto e fazia uma fresta de cor em um de seus olhos. Seus olhos... Seus olhos lindos, seu olhar preguiçoso, seu olhar de mulher, que combinava estranhamente com seu jeitinho de menina... Seu olhar, que foi me ensinando durante aqueles segundos que alguém pode amar de repente, pode se apaixonar de repente, se simplesmente se deixar levar... E eu sentia, naquele exato momento, que eu estava gostando... Daí estava amando... Daí me apaixonei.

— Bom dia, princesa...— Sussurrou Cláudia, sorrindo, sem deixar de me olhar. Parecia ter arrumado os cabelos e se ajeitado antes que eu acordasse... Era vaidosa, muito vaidosa.

— Bom dia, guria... Dormiu bem?— Retruquei, sorrindo de volta e suspirando para segurar um bocejo. Meus olhos ainda estavam cansados, e meu corpo estava colado ao dela, quente de certa forma. Então, se aproximando devagarzinho, ela me beijou com simplicidade. Mas... Sabe aqueles dias em que você acorda com vontade de dar um passo? Pois é, era um desses... E no beijo simples, puxei-a pra mais perto, beijando-lhe com mais vontade, segurando sua nuca e colando nossos corpos... E ela parecia ter entendido o recado, quando entrelaçou as próprias pernas entre as minhas...
Então, devagarzinho, fui me debruçando por cima dela, apoiando meu peso em um dos braços para não deixá-la desconfortável. Ela rodeou meu corpo com os braços, me aproximando com cuidado, enquanto me beijava com vontade, roçando a língua em meus lábios hora ou outra, e mordiscando os mesmos, enquanto eu fazia o mesmo com ela. Logo comecei a descer os beijos pelo seu pescoço, sentindo um perfume amadeirado delicioso, provavelmente que já havia se acostumado à pele dela... Enquanto isso, mordiscava sua pele macia, com certo cuidado para não marcá-la, mas quando notei que ela puxava meus cabelos a cada vez que eu fazia isso, comecei a mordê-la com mais força. Arrancava-lhe gemidos baixinhos, deliciosos... Enquanto ela me mordia um dos ombros com força o suficiente para me fazer suspirar e também reclamar, por me deixar marcada provavelmente por semanas!

Foi quando comecei a deixar que minha mão livre percorresse seu corpo quase nu, devido ao tamanho ridículo do pijama que ela usava, e acariciei devagar sua cintura. Por um instante, parei para brincar com meus dedos por ali.. Sempre adorei aquela curvinha da cintura, que diferencia de verdade quando chega no quadril, e depois dali fui descendo a mão até seu osso do ilíaco, demorando meus dedos por ali... Foi então que eu deixei de beijá-la e a olhei nos olhos: era quase que um pedido de permissão, para que meus dedos pudessem seguir dali por diante... Era um pedido para ser a primeira garota da vida dela, significantemente...

Para quem pode me ouvir sussurar. 26

Enquanto eu estava ali, parada e pensando no dia que eu tive, ouvi Cláudia sussurrando quase inaudivelmente:

— Vem cá, deita comigo...

Ela parecia tão próxima de mim, em tão pouco tempo... Talvez eu tivesse enjoado das mesmas garotas de sempre, talvez ela fosse uma novidade deliciosa. Então, fui até a cama e me deitei ao lado dela, ambas debaixo de uma coberta só, e abraçadas como da última vez. Então, como se ela pudesse ler minha mente, ela disse, hesitante:

— Vai ter que tomar uma decisão sobre as meninas... Acho um pouco malvado da tua parte não dar nenhum veredito sobre com quem vai ficar.

(Gabriela, não seja impulsiva, não seja impulvisa, NÃO SEJA IMPULSIIIIVAAA, NÃÃ--)

— Você...

(Já foi.)

Eu sabia, sim, o que eu estava fazendo. Ela parecia a única que não pensava só em me comer e reclamar depois se estivesse bêbada, como as outras. Assim que eu disse aquilo, ela me olhou um pouco surpresa, mas sorriu. Acenou positivamente com a cabeça, enquanto eu continuei:

— Mas vamos com calma... Não é um namoro nem um compromisso, só quero que saiba que, das gurias daqui, eu gosto de você... Mas eu vou te dizer caso eu conheça outra pessoa e espero que você entenda, e quero que você faça o mesmo.

Ela acenou novamente com a cabeça, enquanto levava sua mão até a minha, entrelaçando nossos dedos. Aquilo fora precipitado, eu sei... Mas parecia ser o certo.

Antes que dormíssemos, e depois do que eu havia dito, Cláudia aproximou-se ainda mais, e foi virando seu corpo até debruçá-lo levemente sobre o meu. Era leve, e seu corpo parecia ter sido feito para estar junto ao meu naquele instante. E então, como se sua noite dependesse daquilo, como se nada mais importasse, ela encostou os lábios suavemente nos meus, sem realmente beijá-los com a paixão de um casal, apenas tocando-os numa espécie de selinho silencioso e carinhoso... Um toque que durou tempo o suficiente para me fazer perder o fôlego, enquanto eu levava minhas mãos ao seu rosto, acariciando-o de leve, devagar... Depois de um certo tempo que ficamos ali, nos beijando, ela me olhou nos olhos, sem dizer nada. E eu olhava cada detalhe de seu rosto... Lindo... Humanamente lindo.


Então, ela esgueirou-se para mais fundo nos lençóis e no fino cobertor, e repousou uma das mãos sobre meu ombro. A outra deitava ao lado de meu corpo, e seu rosto, juntamente com parte de seu corpo, descansada por cima do meu, confortável e nada incômodo. E quando olhei para ela, estava de olhos fechados... E sorrindo.

Então, sem poder me conter, sussurrei algo que estava em minha mente desde que nos beijamos na primeira vez...

— Você é um anjo...

Não ouvi resposta... Bem provavelmente ela já estivesse dormindo, afinal seu dia havia sido cansativo. O meu também... E foi assim que eu peguei no sono, com um anjo no meu colo...

{Fim do segundo dia.}

sábado, 2 de outubro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurar. 25

Eu gostava de continuar sentada por um tempo depois de uma refeição. As garotas já estavam saindo, quando Cláudia perguntou, tocando meu ombro:

— Não vai levantar? Vamos ver um filme!

Eu estava pensando exatamente nela... Exatamente na forma doce que me tratava, enquanto as outras só queriam me comer. Enquanto ela falava, eu a observava, sorrindo. Era como se cada palavra dela passasse em câmera lenta quando ela falava diretamente comigo, e de mim. E o sorriso dela era agradável, era bonitinho de se olhar... Será que eu estava gostando mesmo dela?
Eu, então, me levantei e a segui até a sala, onde as garotas preparavam tudo para um filme de terror. Assim que soube, a pequena morena encolheu-se, resmungando alguma coisa sobre não gostar, e ter medo. É, Gabby, é a sua chance..

— Eu te protejo..— Sussurrei ao ouvido dela, segurando sua mão e sorrindo. — E se você não quiser olhar, pode se encolher no meu colo!

Ela sorriu, enquanto seu rosto se enrubescia. Sentamos ao chão, e as meninas no sofá. Quando eu vi o comecinho, os primeiros segundinhos do filme, eu já reconheci que era um dos meus prediletos! E enquanto eu olhava vidrada pra tela, Cláudia se encolhia, apertando meu braço e soltando grunhidos de medo. Até que eu a abracei, colocando-a no meu colo, e comecei a fazer carinho pelo seu braço... Admito que eu prestava atenção demais no filme, mas senti que ela estava mais calma...

O fim do filme era horrorizante, com direito a sequência e a Gabriela encolhida, assustadíssima e com cara de ovo. Que culpa tenho eu se lobisomens me dão mais medo do que estupradores da esquina?! Todas as garotas estavam em estado de choque, e umas se levantavam para ir ao banheiro enquanto outras iam dormir. Olhei no relógio, e passava da uma hora. Cláudia estava quase dormindo nos meus braços, parecia que só se mantinha acordada por uma frestinha aberta em seus olhos cansados e tão bonitos...

Quando pensei em pedir que ela se levantasse, ela já estava super confortável. Sabe aquele dó de fazer a pessoa acordar e ir andando pro quarto? Pois é! Então, ajeitei o corpo dela apoiado no sofá, e fiquei de joelhos. Assim, mesmo tendo que me esforçar um pouco, apanhei-a no colo com cuidado para evitar solavancos. Quando eu já estava em pé, ela acordou, sussurrando:

— Que você tá fazendo?

Sua voz estava sonolenta, e baixíssima...

— Fica quietinha e relaxa o corpo, vou te levar pro quarto...— Respondi, no mesmo tom de voz, enquanto sorria. — Se você ficar nervosa vai ficar mais pesada, então colabora!

Ela riu baixinho, e então abraçou meu pescoço, diminuindo meu esforço. Eu podia sentir o calor da pele dela, da respiração dela, pelo meu pescoço... E eu nunca tinha carregado ninguém, aquilo pra mim era bem difícil, e quando eu cheguei no quarto deixei-a na cama e comecei a estalar os ossos dos braços. Bianca nos observava pela porta em frente, mas não disse nada quando eu a olhei, e fechou a porta antes que eu pudesse dizer boa noite. Então, fechei a porta do nosso quarto e fui me vestir. Assim que estava com meu pijama, fiquei parada, em pé, de frente ao espelho. Eu sempre gostei de me olhar no espelho.. É uma forma de não esquecer quem nós somos.

Para quem pode me ouvir sussurar. 24

Sua voz me dava arrepios, era linda... Mas sua forma de tratar as pessoas com quem dormia quebrava todo o encanto da garota maravilhosa que ela era. Estava minimamente vestida, e andava então em direção à cozinha. Mel estava lá, com uma expressão alegre. Entre as conversas que eu e Cláudia tivemos, ela me contou que Clarice havia combinado de ficar com Mel, contanto que ninguém mais soubesse além das garotas da nossa casa, e todas já sabiam do acordo, portanto ninguém contaria aos pais ou amigos de ninguém. Depois que fiquei novamente sozinha na sala, resolvi agir. Apanhei meus documentos no quarto e uma cópia do currículo que eu havia preparado durante as aulas e fui em busca de algum emprego. Todo mundo tava tomando vergonha na cara, eu também tinha que tomar!

Eu havia passado a tarde toda entregando currículos em lojas, empresas, e etc. Uma das lojas, a última, era cheia e rodeada de árvores espinhosas e eu dei um duro do cão pra passar por todas! Voltando para casa, assim que abri a porta, dei de cara com Júlia sentada no chão, debruçada no sofá onde Cláudia estava sentada. Ambas conversavam animadamente, enquanto eu entrei e murmurei um “Olá” cansado. Nisso, Cláudia levantou-se com pressa e correu até o quarto para onde eu tinha ido, perguntando:

— E então, já sabe se tem algo garantido?
— Não, mas devem me ligar durante essa semana... Nossa, estou exausta, devo ter andado mais de um quilômetro! — Resmunguei, jogando meu corpo na cama, já sem sapatos, e amarrotando toda a camisa que eu vestia.
— É pouco, folgada! — Riu a morena, sentando-se ao meu lado. — Eu já devo ter andado uns 7, só por causa do trabalho. Ei... Que é isso no teu braço?

(Isso o que?! Que foi que ela viu? Não se desespere, não pode ser uma barata...)

Quando olhei para meu braço, havia um corte de no mínimo 10 cm e meu antebraço, que começava pouco depois do pulso e que eu não havia percebido antes. E estava manchado de sangue ao redor, quase que manchando o braço todo.

— Nossa! Como foi que eu não vi isso?!
— Sei lá, mas é melhor cuidar logo, que não deve ter parado de sangrar ainda. — Disse a garota, correndo para apanhar a caixinha de primeiros socorros que deixávamos na cozinha. Bem provavelmente por causa da adrenalina liberada graças à grande caminhada que eu havia percorrido às pressas, eu não estivesse sentindo dor até agora. Mas foi só olhar o corte, e eu senti um ardor insuportável...

Quando Cláudia chegou com a caixa, logo apanhou o anti-séptico e espirrou-o sobre o ferimento. Nossa, como aquilo ardia! Logo depois, com duas gazes, a pequena fizera um curativo, enfaixando meu braço em seguida. Mel então passara em frente à porta perguntando o que havia acontecido. Disse que era um corte que provavelmente tinha sido causado por alguma planta onde eu estava, e que estava tudo bem. Depois de enfaixada, eu ouvi Bianca chamando para o jantar. Cláudia então se levantou e estendeu a mão para que eu me levantasse também. Eu gostava do jeito que ela me tratava...
Sentadas à mesa de jantar, todas estávamos plenamente de bom humor. Sim, cada uma perguntou sobre meu braço e eu expliquei a todas de uma vez, e elas ficaram menos preocupadas. Menos Júlia, que parecia me tratar como se eu fosse uma criança, me dizendo para tomar cuidado e repetindo que ela poderia cuidar de mim. Ela deve ter repetido isso 3 vezes durante a conversa. Quando foi repetir a quarta vez, Cláudia a interrompeu, alterando levemente o tom de voz:

— Tá, mas eu cuidei dela, pronto, chega!

Bianca olhou-a com desconfiança. Júlia mal abriu a boca: apenas abaixou a cabeça, com o rosto vermelhíssimo. As outras duas meninas apenas fizeram cara de espanto, retirando seus pratos vazios. Eu era a única que não comia salada?