Eu a olhei, meio preguiçosa, e respondi com calma, tentando não assustá-la:
— Um carro te acertou... Você estava de fones de ouvido e não ouviu o carro chegando, correu na frente dele. Por sorte o homem não estava correndo, e só te fez desmaiar, os médicos devem ter dito pra ti que não foi grave..
— Disseram sim.. Mas... E você? — Ela perguntava para saber o que EU estive fazendo, afinal.
— Na hora que eu te vi no chão... Achei que estivesse sonhando. Apanhei suas sapatilhas e vim até aqui no carro do responsável, e ele está na delegacia se justificando, pareceu tão preocupado quanto todos ali... Menos eu. — Dei uma pausa. — Eu me preocupei mais...
Ela sorriu, corando de leve, e olhou ao lado de sua cama. Lá estavam as sapatilhas.
Ela riu, baixinho, me olhando novamente, em sinal para que eu continuasse contando.
— Eu estava ajoelhada do teu lado... Você não parecia muito machucada, se for parar pra pensar. Inclusive...— Uma pausa, e eu me lembrei de um detalhe — O que você tinha na perna? Estava ensanguentada...
Ela fez cara de quem tentava se lembrar vagamente de algo. Quando finalmente desfez a expressão enrugada do rosto, arqueou as sobrancelhas e disse:
— Meus óculos!
Ela então afastou a roupa de hospital para olhar a própria perna. Um corte exatamente do tamanho de uma lente de óculos, costurado com poucos pontos, estava onde deveria ser o bolso dela. Eu me levantei na mesma hora e apanhei as calças dela, penduradas perto da porta, e revirei seu bolso. Por pouco, não me cortei, pois alguns cacos de vidro estilhaçado ainda ficaram no bolso, e o forro do mesmo estava totalmente rasgado. Foi quando ela disse, às minhas costas:
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