sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Para quem pode me ouvir sussurrar. 35

Deviam ser quase duas horas da manhã quando começamos a falar sobre nossos pais. A maioria das garotas tinha sido matriculada na escola interna antes de se descobrir homo, e Júlia ainda sentia falta de homens, então nenhuma delas tinha grandes problemas com os pais. Bianca tinha uma história um pouco mais dramática, dizendo que os pais reclamavam muito de sua postura de moleca, mas nada que a fizesse ser traumatizada. Cláudia falava dos pais com algum desdém, mas sem odiá-los, apenas com algum rancor, como se eles fossem pouco presentes. E eu... Eu nunca falava muito dos meus pais...

— E porque nunca fala deles? — Perguntou Cláu, um tanto receosa. As meninas também ouviam pouco sobre eles.

— Ah, nada demais. Meu pai é meio solitário mas ele gosta de ficar assim, quando bate saudade ele me liga e a gente se encontra, então nunca tenho muito o que falar dele...

— E a tua mãe? — Mel perguntou. Podia ter ficado quieta, seria melhor... Pois, assim que ouvi sobre minha mãe, aquele nó se apertou na minha garganta. Eu não precisava falar a verdade, nem precisava transparecer minha angústia... Então só murmurei qualquer coisa:

— Foi ela que me mandou pro internato à força.

Talvez aquilo parecesse rancoroso. Mas eu não ousei dizer mais nada de minha mãe, porque era um dos poucos assuntos que me sensibilizava de verdade. Não me lembrava de ter chorado muitas vezes, e uma das poucas foi por falar de minha mãe com Bianca, no segundo ano...
Para cortar o clima pesado, Cláudia propôs que fôssemos dormir. Logo eu notei que ela havia feito aquilo para me tirar da roda, enquanto ela se levantava e me oferecia ajuda para fazer o mesmo. Todas se cumprimentaram com boa-noite-beijinho-no-rosto e fomos cada duas ao seu devido quarto.

Assim que fechou a porta atrás de nós, Cláudia segurou minha mão e perguntou:

— Quer conversar?

Eu devia parecer deprimida pelo fato de ter dito aquilo, mas realmente preferia ficar quieta. Abaixei o rosto e sorri, acenando negativamente com a cabeça em seguida. A pequena apertou minhas mãos, insistindo, e me puxou para que sentássemos à cama. Não, eu não queria falar e não ia adiantar insistir! Eu nunca fui do tipo que falava a verdade e se ela insistisse eu iria mentir! Eu era compulsivamente mentirosa...

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